Onde termina o jornalismo e começa a cultura? Você sabe o que é o “Reload”?

Por Natalia Viana, da Pública

Como as notícias conseguem se transformar em cultura? Essa questão sempre me interessou. Após meses investigando o assunto, foi fascinante observar, por exemplo, como o humorista Marcelo Adnet fez um vídeo baseado na série de reportagens da Agência Pública sobre a relação do FBI com a Lava Jato, levando centenas de milhares às gargalhadas com Moro carregando no sotaque americano. Será que a memória coletiva pode ajudar a corrigir as injustiças quando a própria Justiça falha, como infelizmente ocorre tanto no Brasil?

Este é um problema que inquieta jornalistas que noticiam uma realidade que parece cada vez mais brutal. Como explicar para a opinião pública que o Brasil está de cabeça para baixo? Ao relembrar os patéticos e breves Ministros da Educação do governo Bolsonaro – um deles chegou a dizer que havia extensivas plantações de maconha nas universidades – a apresentadora do Canal Reload Larissa Venturini, encara a câmera e canta Cássia Eller: “o que está acontecendo? O mundo está ao contrário e ninguém reparou?”

É essa a clareza e frescor que estamos buscando com o Canal Reload – “recarregue” em inglês –, um canal de jornalismo em vídeos no Instagram  e Youtube que lançamos esta semana. A Pública se juntou a outras nove organizações que têm inovado no jornalismo digital para usar e abusar da criatividade e, assim, melhor espalhar o conteúdo de qualidade que já fazemos. São elas: ((o))ecoAgência LupaAmazônia RealCongresso em FocoÉnoisMarco Zero ConteúdoPonte JornalismoProjeto #ColaboraRepórter Brasil

Juntas, fomos ouvir aqueles que estão sendo violentamente disputados na economia da atenção das redes sociais, mas que, curiosamente, são os menos ouvidos: os jovens.

“Já passou da época da gente ficar usando palavra bonita só pra usar palavra bonita, né?”, provoca João Freire, outro apresentador do Canal Reload. “Quebrar esse muro invisível de uma barbárie que se acha civilizada só por ser branca e por ser inacessível pra maioria da população”, ensina Bell Puã, também uma das caras do canal.

Quem apresenta o Reload são 12 jovens de vinte e poucos anos, ávidos por informação, alguns pioneiros em suas famílias, da primeira geração que chegou às universidades graças ao Prouni e às cotas. Eles não tinham nem cinco anos quando Lula chegou a presidência, estavam em plena adolescência quando irromperam as manifestações de 2013, e ainda nem eram adultos quando Dilma foi removida da presidência. Vêm de diferentes regiões do país, têm diferentes cores, sotaques, trajetórias e etnias. Eles são uma amostra dos milhões de brasileiros que não sabem direito como ou onde se informar, para quem o jornalismo tradicional soa pedante, distante, incompreensível. Os jovens de hoje não ligam para a imprensa tradicional porque ela não se conecta com eles. As notícias não penetram no caldo cultural onde eles estão inseridos.

É essa barreira entre nós, que crescemos ouvindo o barulho do folhear de jornal pelos nosso pais, e eles, que já cresceram dividindo a atenção entre os seus e as telinhas de celular, que o Reload pretende quebrar. 

Convidados pelas dez organizações, esses comunicadores, junto com a equipe de vídeo liderada por Hugo Cucurullo, vão mergulhar na linguagem Youtuber, criando histórias em quadrinhos, animações, gifs, videoclipes e poesia jovem para conquistar o coração e a mente dos seus pares para o jornalismo de qualidade. É uma missão e tanto, que eles abraçaram com entusiasmo.  

Assim como nós. Aqui na Pública sabemos que é nosso dever invadir esses espaços onde eles já estão para combater a desinformação criminosa que prolifera nas redes sociais. E, com a boa companhia desses talentosos jovens, tenho certeza que nossa chance de vencer ficou bem maior.

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*Natalia Viana, codiretora da Agência Pública

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