Exposição virtual: Yamî, espíritos cantores na aldeia Maxakali

Por Ramon Rafaello

Em abril de 2019 estive acompanhando um grupo da aldeia Pataxó de Coroa Vermelha (BA) em uma visita no território indígena de Pradinho (Aldeia Boa Vida), onde aconteceram os rituais em homenagem ao pajé e mestre de saberes Toninho Maxakali. Nesta ocasião foi produzido um registro etno-fotográfico que encontra-se no acervo do Museu de Arqueologia e Etnologia Americana (MAEA) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), através da exposição Maxakali – A Resistência de um Povo, e devido ao isolamento social em função da pandemia do covid-19, as fotografias encontram-se também (temporariamente) na exposição virtual Yamî, espíritos cantores na aldeia Maxakali.

Os povos tikmũ’ũn, conhecidos como Maxakali, atualmente vivem no estado de Minas Gerais, distribuídos entre a Terra Indígena de Água Boa, Terra indígena de Pradinho, Aldeia Verde e Aldeia Cachoeirinha. Falam predominantemente na língua maxakali (macro-gê) e utilizam o português como segundo idioma para se comunicar quando recebem visitas ou realizam atividades fora das aldeias. São sobreviventes dos extintos territórios de mata atlântica entre o sul da Bahia, norte do Espírito Santo e nordeste de Minas Gerais, e ainda mantem seus sistemas linguísticos e ritualísticos plenamente vivos através de “um repertório poético, mítico e musical extenso, rico e variado” (TUGNY, 2016, p.02).

Os rituais religiosos são elementos fundamentais para compreender a resistência cultural Maxakali, através de um conjunto de relações estruturadas sob a mediação dos yãmîyxop (povos-espírito), que visitam as aldeias compartilhando através dos cantos, conhecimentos ancestrais, narrativas míticas, habilidades guerreiras, caçadoras e curativas. O canto-poesia dos yãmîyxop conecta o presente e o passado possibilitando a reprodução da memória ancestral, sendo considerando pelos Maxakali como um espírito que deve ser cuidado pelos humanos, os quais devem transmitir seus conhecimentos para as futuras gerações, em uma relação de ensino-aprendizagem que vem contribuindo para manter viva a cultura Maxkali, mesmo após o avanço do desmatamento e das atividades agrícolas e agropastoris que reduziram as áreas de habitação tradicional e sua biodiversidade, disseminando epidemias, gerando conflitos territoriais e dentre outros impactos responsáveis pelo etnocídio dos diversos povos originários da Mata Atlântica nos últimos séculos (ÁLVARES, 1995).

Embora sejam “indevidamente tratados como um único povo, os Tikmũ’ũn mantêm ativa a memória da diversidade dos seus grupos originários” (TUGNY, 2009) que tradicionalmente conviveram entre o vale dos rios Jequitihonha, Buranhém, Itanhém, Mucuri e Jucuruçu. De acordo com a historiadora Maria Hilda Paraíso (1994), etnias pertencentes a família linguística maxakali, integravam uma pan-tribo formada pelos Amixokori, Pataxó, Monoxó, Kumanoxó, Kutaxó, Kutatoi, Maxakali, Malali e Makoni, culminando por unir-se em dois etnônimos conhecidos atualmente por Maxakali e Pataxó.

Portanto, esta exposição etno-fotográfica tem como objetivo a valorização dos rituais e cantos yãmîyxop no território do Pradinho, como elemento de resistência cultural, memória e patrimônio imaterial remanescente dos diversos povos Tikmũ’ũn que tradicionalmente viveram nas extintas áreas de Mata Atlântica entre o sul da Bahia, norte do Espírito Santo e nordeste de Minas Gerais.

Deixo aqui, registrado o agradecimento à pesquisadora Rosângela Pereira de Tugny, devido sua dicação no trabalho desenvolvido com o povo Tikmũ’ũn, e por ter possibilidade a participação nos rituais em homenagem ao o pajé e mestre de saberes Toninho Maxakali.

Álbum do Flickr – Ramon Rafaello
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LINK DA EXPOSIÇÃO VIRTUAL https://www.flickr.com/photos/155346106@N07/albums/72157715914772398

Ramon Rafaello é graduando do bacharelado em antropologia da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) e mestrado do Programa de Pós Graduação em Estado e Sociedade (PPGES)

Para conhecer mais sobre Toninho Maxakali, acesse: https://piseagrama.org/homenagem-ao-paje-toninho-maxakali/

Fontes bibliográficas:

CARVALHO, Marivaldo A. Tais Cangussu Galvão Alves. Rosana P. Cambraia. O POVO INDIGENA MAXAKALI E SUAS NARRATIVAS MÍTICAS. Revista Desenvolvimento Social No 13, 2014. (ISSN 2179-6807)

PARAÍSO, Maria Hilda B.. Amixokori, Pataxo, Monoxo, Kumanoxo, Kutaxo, Kutatoi, Maxakali, Malali e Makoni: povos indígenas diferenciados ou subgrupos de uma mesma nação? uma proposta de reflexão. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo: USP / MAE, n. 4, p. 173-87, 1994

TUGNY, Rosângela de. Homenagem ao pajé Toninho Maxakali. Piseagrama, Belo Horizonte, seção Extra!, 22 abr. 2019.

TUGNY, Rosângela Pereira de. 2009. Mõgmõka yõg kutex xi ãgtux. Cantos e histórias do Gavião-Espírito.

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