Fiscais encontram desmatamento com queimadas e ‘correntões’ em áreas protegidas e temem desertificação

Flagrantes foram realizados em áreas de preservação ambiental do Tocantins e do Piauí. Em alguns casos, há suspeita de fraudes na emissão de licenças.

Por TV Globo

Fiscais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) estão preocupados com a possibilidade de desertificação de áreas no cerrado brasileiro após flagrarem casos de desmatamento em áreas de proteção ambiental no Tocantins e no Piauí. Perto do Parque Estadual do Jalapão, foi constatado até o uso do ‘correntão’, que é a prática de arrastar árvores inteiras com uma corrente puxada por dois tratores.

“Mais uma vez aqui o Ibama flagrou um desmatamento acontecendo aqui com a utilização do correntão, essa prática que é muito comum de ser utilizada aqui no estado, mas que é extremamente danosa para a fauna”, diz um dos fiscais em um vídeo feito durante a operação.

As equipes estavam em campo para combater o desmatamento na região do Matopiba, sigla que reúne os estados do Maranhão, Tocantins Piauí e Bahia e é considerada uma fronteira agrícola.

“O quê que é preocupante aqui, é que além do correntão ele utilizou o fogo, e deixou o solo completamente exposto. O que tinha de material orgânico, foi queimado, e deixando a areia completamente exposta, o que tem um forte caminho agora para a desertificação” , explica o fiscal.

Ao todo, foram percorridos sete mil quilômetros no Jalapão, na Serra da Tambatinga e no Parque Nacional das Nascentes do Parnaíba. Foram identificados 23 mil hectares desmatados ilegalmente e aplicados R$ 34 milhões em multas.

Em alguns dos casos, de acordo com os fiscais, as áreas ficam em propriedades privadas e deveriam ser destinadas a reserva legal. Em um dos casos, os fiscais descobriram que servidores públicos do Piauí liberaram autorizações para desmatamentos dentro do território do Tocantins.

O Ministério Público Federal está investigando a denúncia. “Nós requisitamos a instauração de inquérito policial pra apurar tanto as infrações ambientais, quanto essa possível fraude na emissão dessas licenças ambientais”, informou o procurador da República Álvaro Manzano.

O cerrado ocupa cerca de 20% do território nacional e é uma das áreas naturais mais ameaçadas do planeta. “Esse tipo de desmatamento, ele traz um risco muito grande pra quantidade e disponibilidade, justamente, de água na região.Pra se ter uma ideia, alguns municípios do Matopiba, já enfrentam escassez de água pra uso da sua população e esse tipo de ocorrência pode agravar ainda mais essa situação. Então é importante que os responsáveis por esses desmatamentos sejam identificados pra que isso não volte a acontecer”, explica o analista de políticas públicas do WWF-Brasil Marcelo Elvira.

O que dizem os estados

A Secretaria do Meio Ambiente do Piauí disse que jamais emitiu ou renovou qualquer licença fora da zona territorial do estado e que desconhece qualquer autorização de desmate em área de reserva ambiental.

O Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins) destaca que desconhece o fato, mas que irá realizar um levantamento sobre a situação. Disse também que uma pessoa física ou jurídica que esteja operando no estado sem o devido licenciamento da entidade encontra-se irregular.

Áreas de cerrado estão sendo derrubadas por tratores com correntes — Foto: Reprodução/TV Globo

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