Combatemos a covid-19 com nosso conhecimento tradicional, afirmam as lideranças indígenas do médio e baixo Rio Negro em Assembleia Regional

“Dizem que não existe remédio para combater a covid-19. Mas, nós povos indígenas estamos combatendo essa doença com nosso conhecimento tradicional”, afirma José Maria Ferreira, liderança Yanomami durante a Assembleia Geral das Associações Indígenas do Médio e Baixo Rio Negro (Caimbrn), realizado em Canafé, no município de Barcelos, nos dias 2 e 3 de outubro. A IX assembleia definiu representatividade regional para os próximos quatro anos e aprovou estatuto social da coordenadoria

Na Foirn

A Comunidade de Canafé, localizada na região do baixo Rio Negro, no município de Barcelos, recebeu lideranças indígenas de doze associações de base da Caimbrn. Como em outras assembleias sub-regionais já realizadas, os participantes seguiram as orientações de órgãos de saúde, como o uso obrigatório de máscaras e álcool em gel.

Foi unânime as afirmações das lideranças indígenas sobre uso da medicina tradicional ao longo dos últimos meses para tratar os doentes de covid-19. A Associação das Comunidades Indígenas do Médio Rio Negro (Acimrn), fez um levantamento sobre o uso da medicina tradicional usado durante a pandemia, que destacou a diversidade do conhecimento dos povos indígenas que habitam a região. “Identificamos que cada povo e comunidade usa diferentes tipos de remédio caseiro, disse Carlos Nery Piratapuia, liderança e membro da Caimbrm. 

Bruno Martins, secretário da Associação das Comunidades Indígenas do Baixo Rio Negro (Acibrn), conta que a covid-19 pegou de surpresa as comunidades de abrangência da associação. “Não sabíamos que a doença já estava no nosso meio. Quando descobrimos, muitos de nós já estavam contaminados”, afirma. “Antes tínhamos café e caribé, um costume que mantemos com os parentes da comunidade. Depois que chegou a pandemia, mudou tudo. Ainda bem que nossos pais e conhecedores tradicionais nos ajudaram a combater a doença com nossos remédios caseiros”, completa.

José Mário Yanomami, disse que a principal preocupação que tiveram com a chegada da doença foi sobre os mais idosos. “A nossa preocupação com eles foi grande, pois, vimos na TV que por onde chegava a doença matava muita gente. Graças a eles, que guardam os conhecimentos do nosso povo, conseguimos enfrentar a doença. Mudou muita coisa na nossa vida. E precisamos continuar nos cuidando e cuidar da nossa floresta, pois é dela que tiramos os nossos remédios”, disse.

Sobre a mudança na vida das pessoas nas comunidades, a presidente da Associação Indígena de Barcelos (Asiba), Maria Lourenço, do povo Baniwa, relatou que o isolamento social que acabou sendo obrigatório, afetou muito a convivência as comunidades. “Tivemos que passar a seguir as orientações do pessoal da saúde, como o isolamento social e o uso de máscara. Não consigo usar isso, não estou acostumada, quando coloco, já quero tirar”, comentou Maria sobre o uso da máscara.

Médio e Baixo Rio Negro aclamam diretor de referência

A Comissão Eleitoral instituída pelo parecer do Conselho Diretor, coordenou os trabalhos durante o processo eleitoral. A calha do médio e baixo rio Negro foi dividido em 4 regiões para melhor organização e participação das lideranças indígenas na representatividade regional. Portanto, cada região indicou um representante para concorrer, e a sequência seguiu conforme o número de votos.

O resultado da apuração foi: Coordenação Regional da Caimbrn: Carlos Nery (23 votos) – Coordenador, Vice Coordenador: Samero Andrade (13 votos), Coordenador Secretário: José Mario Yanomami (12 votos) e Coordenador Tesoureiro: Evaldo Bruno (10 votos).

“Estamos totalmente satisfeitos com a atuação do nosso diretor de referência”, foi a avaliação unânime das 12 associações de base da Caimbrn, sobre a atuação do atual diretor de referência, Marivelton Rodriguês Baré. “Esteve sempre presente quando precisamos”, foi uma das afirmações mais comuns ao longo das apresentações das avaliações da gestão 2017-2020. Portanto, o atual diretor de referência da região, foi aclamado pelas 12 associações presentes na assembleia para a gestão 2021- 2024 da Foirn.

O reconhecimento do trabalho do atual diretor de referência pelas comunidades e associações de base se deve ao intenso trabalho de mobilização desde da primeira gestão como diretor de referência, porém, os destaques foram os trabalhos da atual gestão, como presidente da Federação, como a implantação de projetos de turismo comunitários indígenas, avanço nos processos de demarcação de terras indígenas, fortalecimento das associações de base, enfrentamento ao Covid-19, melhoria de infraestrutura de comunicação, entre outros.

O diretor Marivelton reconheceu que sua força e incentivo vem da base. “Em vários momentos que me senti sozinho ao longo desses anos, vocês (lideranças e comunidades) estavam lá para me dar força e lutar junto comigo. E vamos seguir lutando pela demarcação de nossos territórios, pela educação diferenciada e saúde indígena, afirmou.

Foto: Carlos Eduardo Ramirez/Agência Brasil

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