Ibase debate volta do Brasil ao mapa da fome da ONU

Por Ibase

O Ibase, em parceria com a Associação Brasileira de ONGs (Abong), promove na próxima terça-feira, 20/10, às 17h, a live “Por que o Brasil da fome e da miséria está de volta?”. Com transmissão pelo Facebook e Youtube do Ibase, o objetivo é debater os últimos dados relativos à segurança alimentar do país.

A fome é uma realidade que atinge mais de 10 milhões de brasileiros. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o contexto do país se agravou no que se refere à insegurança alimentar, que vinha apresentando redução nas últimas décadas. Em 2004, por exemplo, o percentual de lares que viviam com algum grau de insegurança era de 35%. Em 2009, o índice caiu para 30%, tendo registrado nova baixa em 2013, penúltimo período avaliado, quando a marca era de 23%. Agora, o IBGE identifica um percentual de 37% de famílias que convivem com o problema, em maior ou menor grau, segundo os dados colhidos entre 2017 e 2018.

Para Francisco Menezes, pesquisador do Ibase e um dos convidados da live, a volta do Brasil ao Mapa da Fome era algo esperado diante do desmonte das políticas públicas de distribuição de renda e assistência social no país.  “A resposta à crise político-econômica foi cobrar da população mais pobre o preço mais alto para o enfrentamento dessa crise. Com isso, gerou-se desemprego, precarização do trabalho, restrições orçamentárias à proteção social e aos programas de Segurança Alimentar e Nutricional.”  

“Quem tem fome, tem pressa”

A luta contra a fome e a insegurança alimentar no país é uma pauta histórica do Ibase. Fundada por Betinho nos anos 1980, a ONG ganhou notoriedade ao mobilizar a sociedade civil com a campanha “Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e Pela Vida”, lançada em 8 de março de 1993. O objetivo era mostrar o caráter emergencial da fome no Brasil.

Com o lema “Quem tem fome, tem pressa”, a resposta à campanha foi massiva e diversificada. Por todo o país, Comitês da Cidadania passaram a receber doações de alimentos para serem distribuídos. Apesar dessa característica pragmática, a principal motivação da Ação da Cidadania tem inspiração ética. Em 1995, o atual presidente do Conselho Curador do Ibase, Cândido Grzybowski, escreveu: “A fome, a miséria, a exclusão da cidadania, que pesa sobre milhões de brasileiros, é inaceitável de um ponto de vista ético. A fome não pode esperar. A sociedade não pode esperar que o desastre aconteça. Deve agir já. Deve tomar a iniciativa para inverter a lógica de apartheid e genocídio. Cabe à cidadania instituir a lógica da solidariedade em seu lugar. Cabe também à cidadania apontar o rumo para o Estado e o mercado, puxando governos e empresários para a inadiável prioridade de acabar com a exclusão social.”

Athayde Motta, diretor do Ibase, que fará a mediação da live do dia 20/10 – que contará também com a participação de Luana de Brito, integrante da Rede de Mulheres Negras para Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, e Débora Rodrigues, da direção executiva da Abong e Conselheira do Consea Bahia – lembra que a Ação da Cidadania contra a Fome mostrou ao país o quanto não ter o que comer deve ser algo inaceitável. “A fome é um problema antigo no Brasil e estudiosos como Josué de Castro já o haviam mapeado no clássico ‘A geografia da fome’, de 1946. O que Betinho, a frente do Ibase, fez, foi transformar a fome em uma indignidade para todos(as) os(as) brasileiros(as). A tarefa que nos cabe agora é não deixar que essa indignidade volte a fazer parte do nosso cotidiano, ou estaremos todos(as) resignados(as) em sermos um país pior, ao invés de melhor”. 

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