Estudo foi realizado após os constantes ataques do governo aos dados divulgados pelo INPE
Por Fernanda Soares, Jornal do SindCT
Um estudo realizado por servidores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE, resultou na publicação de uma Nota Técnica comparando os serviços de monitoramento realizados pelo sistema DETER, desenvolvido pelo instituto, com a solução tecnológica que vários setores do governo têm procurado promover, da empresa Planet Labs Inc, representados no Brasil pela Santiago & Cintra Consultoria.
O estudo foi realizado após os constantes ataques do governo aos dados divulgados pelo INPE. Os grandes protagonistas dos ataques foram o presidente da República, culminando na demissão do diretor do INPE em 2019, Ricardo Galvão, o vice-presidente, Hamilton Mourão, que propõe a criação de uma agência específica para a realização do monitoramento, e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que, desde antes mesmo de assumir o ministério já demonstrava sua intenção de substituir o serviço realizado pelo INPE. Entenda essa polêmica na matéria realizada pelo Jornal do SindCT.
Fazendo seu lobby, a empresa Santiago & Cintra Consultoria realizou gratuitamente, pelo período de um ano, um serviço de monitoramento do estado do Pará, o DFLORA. O governo do estado aceitou a proposta, mas continuou a utilizar também o sistema DETER, motivo pelo qual foi possível realizar a análise comparativa.
Esta análise constatou que o sistema DETER detecta 290% mais áreas de Alertas que o DFLORA. Além disso, o DETER detecta e apresenta Alertas classificados em 4 classes:
- cicatriz de queimada
- degradação florestal
- corte seletivo
- corte raso
O DFLORA não discrimina seus Alertas.
O sistema DETER foi capaz de observar aproximadamente 76% da área total de Alertas que o DFLORA observou no período de janeiro a dezembro de 2018 para o estado do Pará, enquanto o DFLORA foi capaz de observar apenas 24% da área total de Alertas que o DETER observou.
Também foram comparadas a eficácia dos sistemas e a relação Custo-Efetividade. “O DFLORA-SCCON que utiliza imagens da plataforma da Planet Labs Inc, com aproximadamente 3 metros de resolução espacial e imageamento diário, produziu alertas semanais para a fiscalização e teve efetividade de detecção 2,90 vezes menor que o DETER-INPE. Além disso o valor monetário pago por km 2 de área detectada pelo DFLORA-SCCON foi 29,80 vezes mais caro que o valor monetário pago por km 2 de área detectada pelo DETER-INPE.”
Os resultados deste estudo sustentam claramente que não existe nenhuma evidência de base técnico-científica para a polêmica criada pelo atual governo. Os números contam uma história bem diferente.
O pesquisador Antonio Miguel Vieira Monteiro, do Laboratório de Investigação em Sistemas Socioambientais do INPE, participou da elaboração da Nota Técnica e relatou sua opinião ao Jornal do SindCT:
“Em ciência, e boa engenharia, teses podem ser comprovadas ou refutadas simplesmente porque podem e devem ser testadas. Os resultados numéricos mostram, de maneira inequívoca, que a narrativa criada sobre a necessidade de melhor resolução espacial e melhor resolução temporal para melhorar a eficiência das ações de fiscalização não está amparada nos números. O estudo afirma que a desqualificação que vem sendo feita para o DETER não tem nenhuma base de sustentação nos dados. Vai além disso e mostra inequivocamente que a solução que vários setores no governo federal vêm promovendo, que é privada e sem transparência metodológica, é 3 vezes menos eficiente e 30 vezes mais cara que a solução do INPE. Quando o assunto é sistemas para o monitoramento e emissão de alertas de desmatamento, quer seja pela qualidade dos dados, quer seja pelo dinheiro público que será empregado, ainda é uma boa ideia conversar com técnicos e cientistas do INPE antes de tomar sua decisão.”
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