Dirigente de entidade LGBT pede proteção após ameaças nazistas

Toni Reis, da Aliança Nacional LGBTI+, recebeu intimidações após evento online ser invadido com imagens de apologia ao nazismo e discurso de ódio; para ele, governo Bolsonaro estimula o ódio

Por Jeniffer Mendonça, na Ponte

A Aliança Nacional LGBTI+ encaminhou, neste sábado (24/10), um ofício ao Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos solicitando a inclusão do diretor-presidente da entidade, Toni Reis, no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas. Toni foi vítima de ameaças de morte e ataques hackers em seu aparelho celular.

O mais recente ocorreu na última quinta-feira (22), quando o site da organização recebeu uma denúncia falsa no seu canal com ofensas e ameaças direcionadas a Reis. No mesmo dia, o celular de Toni recebeu 97 mensagens com a suástica nazista. Também foi criado um perfil do dirigente num site pornográfico. No mesmo dia, houve invasões em grupos do aplicativo Whatsapp onde membros da entidade discutiam atividades de educação, advocacy e outros temas.

“O e-mail vinha com um adolf@hilter ofendendo minha falecida mãe de ‘prostituta’, tinha umas mensagens com nome de fuzil, me chamando pedófilo e divulgando meu endereço com dizeres para ‘quem quiser me matar’”, conta o diretor-presidente que teve de tomar medidas de segurança e evitar sair na rua.

Quatro dias antes, durante a madrugada de 18/10, o ativista recebeu seis pedidos de alimento em seu endereço via aplicativo de entrega que ele não tinha feito. “No pedido tinham orientado o entregador a dizer uma senha, com ‘bonde do J.’, que é o mesmo nome do grupo que invadiu a live, e que eu estava sendo ameaçado de morte”, explica.

Reis se refere ao ataque do dia 15/10, quando aconteceu uma invasão do seminário online “Diálogos para enfrentar as desinformações, notícias falsas e discurso de ódio nas eleições municipais”, que estava ocorrendo pela plataforma Google Meets e foi alvo de ataques hacker. O evento integra o programa Voto Com Orgulho, realizado em parceria com outras organizações, para promover candidaturas LGBT+ e discutir direitos dessa população no âmbito das eleições municipais de 2020.

Na ocasião, após 40 minutos do início do evento, imagens com a suástica nazista, da bandeira do arco-íris, que representa o movimento, sendo queimada, além de vídeos pornográficos passaram a ser exibidos na plataforma. Os participantes tiveram que adiar o seminário para o dia 22/10, quando Toni Reis recebeu os ataques direcionados.

“A gente estava promovendo justamente um evento sobre discurso de ódio e é com discurso de ódio que fomos atacados”, desabafa o diretor de políticas públicas da Aliança Nacional LGBTI+ e coordenador do seminário Claudio Nascimento. “Nós ficamos chocados porque é muito grave e não podemos permitir isso em uma democracia, apologia ao nazismo é crime”, complementa.

Nascimento aponta que o ataque foi registrado em delegacias de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte (MG) e Curitiba (PR), já que havia palestrantes dessas cidades participando e ainda não se sabe de onde partiu a invasão. Ele também aponta que a organização vai comunicar o Ministério Público Federal e a Polícia Federal a respeito dos ataques.

Para Toni Reis, que é doutor em Educação e está na luta pelo movimento há 36 anos, após a eleição do presidente Jair Bolsonaro, em 2018, “grupos extremistas, que estão tendo seus privilégios questionados, passaram a se sentir mais seguros e encorajados a atacar as causas LGBTI+, mas não vamos nos calar, vamos seguir lutando pelas nossas conquistas porque essa é uma luta que não tem mais volta”.

A entidade também recebeu apoio do Ga’avah, departamento LGBT+ do Instituto Brasil-Israel, que também criticou o presidente por ter feito declarações LGBTfóbicas. “Bolsonaro colabora de maneira evidente para a legitimação e empoderamento de grupos extremistas cujos valores afrontam diretamente o Estado Democrático de Direito e promovem a barbárie”, diz trecho da nota.

Outro lado

Ponte procurou a assessoria de imprensa do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos e aguarda um posicionamento.

A reportagem também entrou em contato com as assessorias das Polícias Civis dos estados de São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

As pastas do Paraná, Minas Gerais e do Rio de Janeiro informaram que a Polícia Civil segue investigando o caso. A de São Paulo não retornou até a publicação.

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