MST em Mariana (MG) quer reflorestar 5 mil hectares de áreas atingidas pela Vale

Bruno Diogo, do MST em Minas, fala sobre a recuperação ambiental, social e econômica de áreas atingidas pelo crime do rompimento da barragem do Fundão

Por Ludmilla Balduino, da Página do MST

Há exatamente cinco anos, o rompimento da barragem do Fundão, em Bento Rodrigues, no distrito de Mariana, em Minas Gerais, provocou uma avalanche de 62 milhões de metros cúbicos de lama tóxica.

A lama desceu com muita força e alta velocidade pelo Rio Doce e seus afluentes, causando a morte de 19 pessoas e um número incontável de animais, além de desmatamento, destruição, caos, desespero, fome e sede em toda a região, desde Minas até o Espírito Santo. A bacia hidrográfica do Rio Doce abrange 230 municípios, muitos dos quais abasteciam sua população com a água do rio. 

O maior crime ambiental da história do Brasil foi provocado pela mineradora Samarco, da qual a Vale do Rio Doce é uma das donas, em parceria com a BHP Billiton. As dimensões do estrago foram tão grandes que, pela primeira vez na história do Brasil, o Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) classificou esse crime ambiental como violador dos direitos humanos.

Em 25 de janeiro de 2019, outro rompimento de barragem da mineradora Vale, no Córrego do Feijão, em Brumadinho, causou a morte de 179 pessoas. Trabalhadores, mães, pais, filhos e filhas foram soterrados pela avalanche de lama tóxica, vítimas de um crime, mais uma vez, protagonizado pela maior mineradora do Brasil. Outras 131 pessoas ainda não foram encontradas.

Nesse contexto, o MST segue na linha de frente, junto com o povo, para garantir que a justiça seja feita e que a Vale pague pelo seu crime, fortalecendo o projeto da Reforma Agrária Popular nas áreas atingidas.

A Página do MST conversou com Bruno Diogo, do setor de produção em Minas Gerais, que comentou sobre a proposta do movimento de reflorestar, através de tecnologia agroecológica, cinco mil hectares dos assentamentos na bacia do Rio Doce. Acompanhe:

MST – Qual é o principal problema enfrentado pelas famílias do MST atingidas pela barragem do Fundão depois de passados cinco anos desse crime ambiental?

Bruno – O MST, ao longo desses cinco anos de crime, buscou denunciar como é insustentável o atual modelo minerário brasileiro. Frente à destruição de cerca de 500 quilômetros da margem do Rio Doce, da barragem do Fundão em Mariana até a sua foz [no Espírito Santo], não poderia ser tão moroso o processo de recuperação e reparação dos danos ambientais, econômicos, e à saúde das pessoas, como foi evidenciado. As famílias atingidas têm extrema pressa em retomar suas formas de geração de renda e de trabalho. A natureza tem extrema pressa em retomar seu equilíbrio natural. A justificativa dada pela Fundação Renova, de garantir transparência e eficiência no uso dos recursos, é importante e necessária, mas não pode ser um impeditivo de se buscar a retomada da vida das pessoas e a recuperação da bacia do Rio Doce.

Como está o processo de luta do MST contra a Vale?

Estes últimos cinco anos foram de muitas marchas, atos políticos e ocupações de áreas improdutivas em terras das empresas mineradoras. A Vale é, sem dúvida, a empresa com mais responsabilidade com os crimes envolvidos e com a possibilidade de rompimento de novas barragens. Barragens estas que estão em risco iminente em Minas Gerais. 

Quais são as principais reivindicações dos atingidos pelo crime atualmente?

Nossas reivindicações vêm sendo focadas na consolidação da reforma agrária popular nos territórios atingidos. Seja com a democratização das terras das mineradoras, seja com um modelo de produção de alimentos saudáveis de qualidade e em quantidade, garantindo o fortalecimento dos processos educativos que contribuem na emancipação das pessoas atingidas pela lama.

Que papel o Brasil ocupa no setor econômico do minério, e qual é a relação dos rompimentos de barragens com esse papel?

O Brasil governado por Bolsonaro não tem perspectiva de desenvolvimento econômico que favoreça a indústria nacional. Voltamos ao passado, quando éramos colônia e apenas exportávamos produtos primários. A exportação de commodities do agronegócio e do minério de ferro apenas deixa o ônus social e ambiental para o povo brasileiro. Este modelo de dependência de exportação de produtos sem agregação de valor só garante os lucros para uma pequena parcela de empresários. Quem sofre é o povo trabalhador, sem emprego e que é impactado pelos crimes ambientais.

Quais seriam as alternativas à mineração que garantiriam o respeito aos direitos humanos, à terra e a natureza?

Nossa proposta de substituição à mineração é a divisão das terras e a produção agroecológica. Propomos substituir o minério por comida sem agrotóxico. Propomos substituir a extração de minério pelo trabalho das famílias camponesas. Propomos substituir a abertura de novas cavas e construções de barragens pela implantação de sistemas produtivos que conciliam o plantio de árvores com a produção de alimento, como é o caso das agroflorestas.

*Editado por Wesley Lima

Imagem: Famílias do MST no Vale do Rio Doce recebem curso de formação em agrofloresta, que usa tecnologia para o reflorestamento, em setembro de 2018. Foto: Divulgação MST

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