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Washington, 10 Nov 2020 (AFP) – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta segunda-feira (9) a demissão de seu secretário de Defesa, Mark Esper, gerando inquietações enquanto o atual ocupante da Casa Branca insiste em não reconhecer sua derrota nas eleições presidenciais para o democrata Joe Biden.
A decisão, faltando dez semanas para o final do mandato de Trump, encerra uma relação tumultuada de quatro anos entre a Casa Branca e o Pentágono, que já viu partir quatro chefes, em parte por não cumprir os objetivos políticos do presidente.
Assim como seus antecessores, Esper tinha tentado evitar a revolta de Trump.
Mas os dois acabaram entrando em conflito em junho pela pressão da Casa Branca para a mobilização de tropas federais para sufocar distúrbios civis, e pelo desejo de Trump e uma retirada rápida das tropas americanas do Afeganistão antes de que o sistema de defesa se sentisse seguro.
“Mark Esper foi demitido”, tuitou Trump repentinamente. “Agradeço por seu serviço”.
“Semear o caos”
Embora não tenham se surpreendido, os democratas criticaram Trump por desestabilizar a transição.
A presidente da Câmara de Representantes e líder democrata no Congresso, Nancy Pelosi, qualificou a demissão de Esper como uma “evidência inquietante” da intenção de Trump de “semear o caos”.
“Mais de uma vez, a imprudência de Trump põe em risco nossa segurança nacional”, acrescentou em um comunicado.
Trump nomeou Christopher Miller, chefe do Centro Nacional de Contraterrorismo, como secretário de Defesa interino.
Miller, que se retirou após 31 anos no Exército e após cumprir missões no Afeganistão em 2001 e no Iraque em 2003 com as forças especiais, foi assessor de Trump na Casa Branca sobre contraterrorismo e, de janeiro a agosto de 2020, foi vice-secretário de defesa para operações especiais.
Os democratas temem que seja mais um aliado político de Trump do que um tecnocrata.
Miller “deveria lembrar que qualquer um que leve a termo uma ordem ilegal de Donald Trump será plenamente responsabilizado perante a lei”, advertiu o senador democrata Ron Wyden.
Cabeça baixa
Esper foi demitido depois de 16 meses no cargo, no qual tentou ficar fora do radar político para reformar a gigantesca burocracia do Pentágono e reconcentrar a postura de defesa americana na China.
Ex-colega de turma em West Point do secretário de Estado americano, Mike Pompeo, Esper se tornou secretário de Defesa em julho de 2019. sete meses e duas substituições interinas (o engenheiro da Boeing Patrick Shanahan e o comandante da Marinha Richard Spencer) depois que Trump demitiu Jim Mattis, que também teve uma relação tortuosa com a Casa Branca.
Esper atendeu a Trump ao completar uma revisão estratégica da presença dos Estados Unidos no mundo, tentar modernizar os programas de armas, lidar com o surto de covid-19 e enfrentar o racismo no exército.
Além disso, quando o Congresso não deu os fundos a Trump para construir um muro fronteiriço no México, Esper destinou bilhões de dólares de armas e programas de manutenção de bases para seguir adiante com o projeto.
Esper também cortou drasticamente as forças americanas na Síria, quando Trump buscava cumprir sua promessa eleitoral de 2016 de trazer de volta para casa as tropas no exterior.
E depois do acordo de paz entre os Estados Unidos e os talibãs de 29 de fevereiro, reduziu drasticamente as tropas americanas no Afeganistão, de mais de 13.000 na época, para 4.500 este mês.
Confrontos
Mas mesmo evitando a controvérsia, Esper não conseguiu evitar se confrontar com Trump.
Após a morte do afro-americano George Floyd nas mãos de um policial em Minneapolis, em maio, se espalharam por todo o país protestos às vezes violentos contra o racismo e Trump buscou o apoio do Pentágono para enviar tropas regulares.
Em um controverso incidente, Trump foi caminhando ao lado de Esper e do chefe do estado-maior conjunto, Mark Milley, da Casa Branca até a vizinha Igreja de Saint John para tirar uma foto segurando uma bíblia, após expulsar à força manifestantes que protestavam pacificamente no local.
Dias depois, sob fortes críticas, Esper e Milley afirmaram que não se deveria usar tropas ativas na política interna, o que teria enfurecido Trump.
A tensão entre os dois aumentou quando Trump anunciou, aparentemente sem informar Esper, que reduziria à metade o número das tropas americanas na Alemanha.
E depois Esper foi contrário à retirada de tropas no Afeganistão, que Trump queria que estivessem de volta no Natal.
Esper manteve o mínimo de 4.500 soldados que deverão permanecer no país até o fim de novembro, até que os talibãs cumpram as reduções prometidas de violência.
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