Mulheres da Assembleia Internacional dos Povos ratificam sua luta contra a violência

As militantes de movimentos e organizações de todo o mundo defendem seu legado e protagonismo nas lutas populares

Redação Brasil de Fato

“Saudamos a luta feminista que as mulheres e as diversidades estão realizando nos cinco continentes contra o patriarcado, o capitalismo, o imperialismo, o sionismo e o racismo”. Assim as mulheres integrantes da Assembleia Internacional dos Povos, uma articulação internacional de movimentos populares, partidos de esquerda e sindicatos, ratificam seu compromisso com o feminismo no marco do Dia Internacional de Combate à violência contra a mulher, celebrado nesta quarta-feira, 25 de novembro.

Em uma nota divulgada hoje, as militantes recuperam a história da data, criada em memória de Patria, Minerva e María Teresa Mirabal, as três irmãs perseguidas e assassinadas em 1960 por ordem do ditador da República Dominicana, Rafael Leónidas Trujillo.

“Esta é a mesma história de muitas mulheres em todo o mundo que, apesar da violência típica do sistema patriarcal na nossa vida cotidiana, também confrontamos a violência política e social que os Estados cometem contra nós e nossos povos, mesmo que isso muitas vezes nos custe nossas vidas e nossa liberdade. O sistema patriarcal não resiste ao fato de que nós, mulheres lutadoras, não aceitemos o papel que nos é imposto, deixemos para trás o estereótipo do silêncio e da submissão e façamos nossas vozes gritarem contra a desigualdade. Por esta razão, nossa tarefa é construir cenários onde as mulheres sejam ouvidas e se tornem visíveis”, dizem as militantes.

A declaração também denuncia as múltiplas violência das quais as mulheres são vítimas, como feminicídio, assédio, estupro e outras formas de violência física e psicológica, bem como a violência causada pela feminização da pobreza.

Frente ao atual contexto de crise sanitária e econômica mundial que afeta todo o mundo, as mulheres da articulação internacional também reivindicam seu papel central no trabalho e na resistência anticapitalista.

“Nós, as mulheres dos movimentos sociais, das cozinhas comunitárias; nós, as trabalhadoras da educação, as trabalhadoras da saúde e dos cuidados, as sindicalistas, as mulheres que trabalham a terra, nos levantamos para lutar contra o empobrecimento do capitalismo, contra a colonização do sionismo e contra a violência à qual os mais humildes estão condenados. Lutamos em todas as latitudes pela defesa do meio ambiente e dos recursos naturais, pela soberania de nossos povos, pelo direito de decidir sobre nossos corpos, pela democratização de nossos países, contra os avanços fascistas e neoconservadores que querem se apropriar dos nossos direitos”.

Segundo a pesquisa Sem Parar: o trabalho e a vida das mulheres na pandemia, a violência é uma das maiores preocupações das mulheres na pandemia. O estudo realizado pela Sempreviva Organização Feminista e Revista Gênero e Número aponta que “desde o início das ações de controle da pandemia da covid-19, diversas organizações feministas e especialistas apontaram para a possibilidade de aumento dos casos de violência contra a mulher em um contexto de isolamento social”.

Entre março e agosto deste ano, 497 mulheres foram assassinadas no Brasil, o que representa um feminicídio a cada nove horas, com uma média de três mortes por dia. As mulheres são ainda um dos grupos mais afetados pela pandemia do novo coronavírus em termos de impacto econômico, já que são a maioria nos empregos informais e precarizados.

A seguir, leia na íntegra a declaração da Assembleia Internacional dos Povos (AIP) para este 25 de novembro, Dia Internacional de Combate à violência contra a mulher.

Mulheres trabalhadoras do mundo se unem no Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra a Mulher

A partir dos movimentos e organizações articulados na Assembleia Internacional dos Povos, nos juntamos à comemoração do Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra a Mulher, e saudamos a luta feminista que as mulheres e as diversidades estão realizando nos cinco continentes contra o patriarcado, o capitalismo, o imperialismo, o sionismo e o racismo que, com sua natureza de morte, acúmulo e apropriação, tiraram a vida de bilhões de mulheres, meninas e LGBTQI+.

Desde 1981, o Movimento Feminista Latino-americano declarou o dia 25 de novembro como o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra a Mulher em memória da tortura, estupro e posterior assassinato em 1960 das irmãs militantes Patria, Minerva e María Teresa Mirabal, por ordem do sangrento ditador dominicano Rafael Leónidas Trujillo. As irmãs Mirabal, também chamadas de Mariposas [Borboletas], fizeram parte do Grupo Político 14 de Junio, e foram perseguidas e assassinadas por causa de sua militância política e capacidade organizativa.

Esta história militante das Borboletas é a mesma história de muitas mulheres em todo o mundo que, apesar da violência típica do sistema patriarcal na nossa vida cotidiana, também confrontamos a violência política e social que os Estados cometem contra nós e nossos povos, mesmo que isso muitas vezes nos custe nossas vidas e nossa liberdade. O sistema patriarcal não resiste ao fato de que nós, mulheres lutadoras, não aceitemos o papel que nos é imposto, deixemos para trás o estereótipo do silêncio e da submissão e façamos nossas vozes gritarem contra a desigualdade. Por esta razão, nossa tarefa é construir cenários onde as mulheres sejam ouvidas e se tornem visíveis.

O mundo de hoje passa por uma profunda crise que, sem dúvida, é sustentada por nossos ombros e nosso trabalho: as tarefas de cuidado, educação à distância, alimentação e cuidados domiciliares recaem sobre nós, obrigando-nos a trabalhar diariamente em dobro ou o triplo sem descanso ou remuneração. A feminização da pobreza no mundo é a primeira violência que nós mulheres devemos combater, em muitos casos, a violência econômica que sofremos é o início de uma cadeia de violências que dela derivam, assim como devemos lutar com a mesma força pelo fim do feminicídio, assédio, estupro e várias outras formas de violência física e psicológica.

Apesar de tudo isso, nós mulheres pobres, nativas, afrodescendentes, camponesas, trabalhadoras e militantes continuamos a lutar, nos campos e nas ruas, por um mundo onde sejamos socialmente iguais, como disse a camarada Rosa Luxemburgo. Aqui estamos, em qualquer latitude e na linha de frente, defendendo nossos territórios da sede imperialista e colonialista dos capitalistas e defendendo, acima de tudo, nosso direito de viverem paz e de ter autodeterminação: as numerosas guerras imperialistas e extrativistas em todas as latitudes nos utilizam como os principais despojos de guerra e lutamos contra isso todos os dias.

Nós, as mulheres dos movimentos sociais, das cozinhas comunitárias; nós, as trabalhadoras da educação, as trabalhadoras da saúde e dos cuidados, as sindicalistas, as mulheres que trabalham a terra, nos levantamos para lutar contra o empobrecimento do capitalismo, contra a colonização do sionismo e contra a violência à qual os mais humildes estão condenados.

Lutamos em todas as latitudes pela defesa do meio ambiente e dos recursos naturais, pela soberania de nossos povos, pelo direito de decidir sobre nossos corpos, pela democratização de nossos países, contra os avanços fascistas e neoconservadores que querem se apropriar dos nossos direitos.

Hoje, mais do que nunca, seguimos levantando o exemplo das Borboletas Mirabal, bem como de todas as mulheres lutadoras do mundo, e continuamos a lutar por um mundo sem patriarcado, capitalismo, racismo ou imperialismo, e continuamos a gritar, cada vez mais alto e com mais força, contra todas as formas de violência masculina, contra todas as formas de exploração, contra todas as formas de opressão.

Em nome de Saida Mnebhi, Michelle Aylin Nayarit, Hande Kander, Fatma Bahri, Samjhana BK, Breonna Taylor, Josina Muthemba Machel, dos milhares de mulheres nos centros de detenção do Serviço de Imigração e Controle de Aduanas dos EUA (ICE na sigla em inglês) e das vozes contra a violência e a pobreza das mulheres em todos os continentes, exigimos o fim da violência patriarcal em todas as suas expressões.

As mulheres da classe trabalhadora em todas as partes do mundo sustentamos este mundo, sem descanso, e nos unimos para construir um mundo sem discriminação e sem exploração.

Abaixo o patriarcado!

Warova mukadzi warova dombo (Você golpeia uma mulher, você golpeia uma rocha).

Edição: Luiza Mançano

Imagem: “Nos levantamos para lutar contra o empobrecimento do capitalismo, contra a colonização do sionismo e contra a violência à qual os mais humildes estão condenados” – Marcha das Margaridas

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