Teles Pires: o rio mais impactado da Amazônia

Por MAB MT, na CPT

Na noite de 22 de novembro aconteceu o evento “Amazônia em debate – Teles Pires, o rio mais impactado da Amazônia”, no espaço Xingu em Sinop (MT). A atividade é parte de um processo que tem por finalidade ampliar os canais de denúncia dos crimes ambientais e violações de direitos humanos cometidas pelos empreendedores das hidrelétricas no Teles Pires. A UHE Sinop ficou em evidência pelo contexto do evento. A atividade foi realizada pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) em parceria com o coletivo Proteja Amazônia, Fórum Teles Pires e Comissão Pastoral da Terra (CPT).

Um dos objetivos da ação é fortalecer o processo de responsabilização desses empreendedores pelos crimes cometidos. A arte foi uma das principais linguagens para as atividades, com a produção de painéis móveis e um fixo de grafite, que contou com a ida a campo do grafiteiro Jessé de souza no processo de criação da arte, a produção de um vídeo para circular nas redes sociais e a produção de exposição de fotos sobre o processo histórico das violações, crimes ambientais e luta dos atingidos.

A atividade iniciou com uma mística trazendo diversos dados e elementos sobre desmatamento, queimadas, agronegócio e hidronegócio, e o que isso tem significado para a floresta amazônica e seus povos. Logo em seguida foi exibido o filme ‘O Complexo’, que traz uma reflexão sobre os impactos socioambientais que os empreendimentos hidrelétricos construídos no baixo e médio Teles Pires, tem gerado a uma gama de municípios e suas populações que vivem em seu entorno.

Em seguida à exibição do filme, foi aberto para o debate, onde diversas pessoas puderam fazer uso da fala para expor sua análise sobre todos os conflitos apresentados. A coordenação da noite trouxe os objetivos e todo processo de construção do evento. Alisson Oliveira do Xingu trouxe a importância de realizar tal debate, devido à urgência do tema e colocou o espaço a disposição para outros eventos e atividades.

Daniel Schlindwein, agricultor da Gleba Mercedes V, relatou sua vivência enquanto atingido, desde o início do processo quando a usina hidrelétrica de Sinop começou a ser instalada: “foi um longo processo de reuniões e lutas para fazer valer os direitos”. A fala de Daniel demonstrou que a organização popular para a luta contra as diversas violações de direitos dos atingidos se faz de extrema importância e dá frutos. A professora Maria Luiza Troian trouxe um histórico da construção do fórum Teles Pires e a chegada do Movimento dos Atingidos por Barragens na região, o que foi de suma importância para contribuir na organização das famílias atingidas, processo esse que todos devemos ajudar na construção. A recém-eleita vereadora pelo Partido dos Trabalhadores, professora Graciele Marques, reiterou seu compromisso com as pautas dos atingidos, assim como o professor Roberto Arruda, da UNEMAT.

O professor Ivan de Sousa, também da UNEMAT, enfatizou o avanço do agrohidronegócio na Amazônia, e como este avanço vem mudando drasticamente a vida e o cotidiano das famílias que vivem e dependem da floresta e de seus territórios. Ainda segundo Ivan, a Amazônia é palco de grandes conflitos por água, sendo esse o reflexo da construção das hidrelétricas do complexo Teles Pires. Além disso, tais conflitos são causados, também, pelo uso desenfreado e criminoso da água na produção de carne e grãos, fato este recorrente também na região do MATOPIBA. Ele trouxe o exemplo dos conflitos recentes em Correntina, na Bahia, onde a população foi às ruas lutar pelo direito à água, bem comum surrupiado por empresas e setores do agronegócio.

No local, foram expostas fotos da história de luta dos atingidos e os grafites produzidos pelo artista Jessé de Souza, bem como uma amostra de alimentos agroecológicos vindos das hortas das famílias atingidas da gleba, e que ao final foram distribuídos aos participantes da atividade.

A reflexão final da atividade é que este debate precisa ser ampliado também para a população urbana, que sofre com os impactos do avanço do capital na Amazônia, e acaba por absorver o ônus desse modelo de desenvolvimento desenfreado.

Foto: Juliana Rosa / Pesqueira

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