Boas Festas?

Por Giovanna Stadnicki

Boas festas, em 2020, é no mínimo um acinte sabe?
Suavizando, só se for pra uma piada. De gosto duvidoso.
E sinceramente, no sentido usual, como sempre foi, eu não vou lhe desejar.
Não vou desejar nem pra mim, porque é impossível e pior, é vergonhoso.

Boas festas, na situação da pandemia do absurdo, o que é?
Seria uma alusão ao Advento, à boa nova encarnada pelo Cristo, da espera por uma transformação de mentes e almas…
Seria.
Mas na atual circunstância, em pleno reinado da negação e da infantilização da realidade alçada como epístola máxima da espiritualidade…
Do descompromisso com a vida…
Vida – a razão da Vinda: “para que todos tenham vida”…
Complica.

Fica difícil recitar um “boas festas” quando nos provamos incapazes crônicos de nos dissociar da letra e encarnar o espírito da coisa.
Incapazes de assimilar que não, não é tempo de festas para o corpo,
Não é tempo de celebrar a vida pondo vidas em perigo,
Não é tempo, de permanecer como sempre fomos, veja, o nascimento do bebê iluminado representou uma nova era de transformação interna…
Mas diante da recusa da sociedade atual (e não só a atual não é?) praticamente absoluta à mudanças responsáveis…
Querem sinais para finalmente compreenderem a si e às estrelas?
Quantos mais?
Não chega?
Nunca chega…

Repito: Boas Festas em 2020 é no mínimo uma afronta.
Não será a insistência numa performance de normalidade forçada que nos trará nem alento tampouco evolução.
Não será se aproveitando como sempre dos símbolos sacros ~falidos~ da nossa sociedade decadente: Deus e Família, pra justificar justamente o descompromisso com a essência dos tais, que mereceremos o céu.
Nem “Nova Terra”, esqueçam a “transição planetária”, não pensem que os “espíritos de luz” são lacaios de gente folgada.

“Boas Festas”, em 2020, seria consciência expandindo rumo a um senso de coletividade adulto.
Um senso de coletividade embasado na consideração forte sobre o peso das consequências dos nossos atos.
“Boas Festas” que fosse um estado de espírito sustentado pela coragem de dizer não a tradições religiosas endeusadas como regra moral inquestionável quando elas não fazem de fato sentido algum, como por exemplo se aglomerar em eventos de final de ano como se não estivéssemos vivendo em 2020, no Brasil, em meio a uma pandemia que NÃO ACABOU NEM DE LONGE, sendo “gerida” por um governo que quer mais é que nós e as nossas CRENÇAS LIMITANTES nos lasquemos.
E daí não é? Afinal ninguém neste governo é coveiro.

“Boas Festas”, em 2020, não passa de uma armadilha…
Porque vem com toda a sua carga emocional e comercial pra nos fazer mais uma vez acreditar que compras e festejos irão expurgar mais um ano massacrante.
Só que esse não foi mais um ano massacrante.
Esse é 2020.
E ele fala por si, seu discurso é único…
E sua letalidade, insuperável até então.

Boas Festas, eu desejo sinceramente…
Aos que têm descoberto em si uma força que nem sabiam que tinham.
Um poder, uma pulsão…
De resistência.
Absoluta resistência, que nada tem de romantismo nem de idealismo, porque é conquista de muita luta…
Resistência a todo obscurantismo que fez de 2020 uma verdadeira guerra ideológica…
Totalmente dispensável, já tínhamos um Corona Vírus bastante mortal pra nos preocupar.
Obscurantismo que tem tornado a luta simplesmente desigual,
Insana.
A esses eu desejo realmente, Boas Festas.
Desejo todo amor do mundo, queria poder dizer isso olhando nos olhos de cada um…
Talvez nunca possa.
Mas vou sempre querer.

E muito obrigada, por entenderem tão profundamente a mensagem do evangelho cujo precursor é supostamente comemorado nessa época.
Muitos de vocês nem são cristãos.
Eu os celebro.
No que restou de humano e são…
No meu coração.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Isabel Carmi Trajber.

Crédito foto: Joka Madruga / CPT

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