Fernando Henrique Cury, deputado que assediou Isa Penna, ganhou nome em homenagem a FHC

Produtor rural, ele pertence a uma família que domina há décadas a política em Botucatu (SP), onde o ex-presidente possui um canavial em área de mananciais; ele conviveu desde criança com o tucano e só trocou o PSDB pelo Cidadania por circunstâncias eleitorais

Por Alceu Luís Castilho, em De Olho nos Ruralistas

O nome completo dele é Fernando Henrique Cury. Uma homenagem de seu pai a Fernando Henrique Cardoso, o FHC. O deputado estadual do Cidadania que decidiu apalpar um dos seios da deputada Isa Penna (PSOL), nesta quarta-feira em São Paulo, pertence a uma família que domina a política de Botucatu, município no interior paulista onde o ex-presidente arrenda suas terras — em área de mananciais — para produtores de cana-de-açúcar.

Fernando Cury é irmão de João Cury Neto (Cidadania), político que antecedeu o atual prefeito do município, Mario Pardini (PSDB). Que o nome do Cidadania não apague a origem tucana dos Cury: eles só trocaram de partido porque João Cury apoiou Márcio França, em 2018, e por isso foi expulso do ninho. Isso não o impediu de assumir a Secretaria de Educação no governo de Bruno Covas Neto — neto de outro tucano de bico quilométrico, Mario Covas.

Fernando e Cury Neto são filhos do falecido Antônio Jamil Cury, esse que nunca bateu asas para outro partido. Ele era tão integrado ao Grão-Tucanato que batizou o filho de Fernando Henrique em homenagem ao colega, na época um dos expoentes do MDB na oposição à Arena, o partido oficial da ditadura. Fernando Cury nasceu em 1979, um ano depois da histórica candidatura de FHC ao Senado, quando o sociólogo se elegeu suplente na vaga de Franco Montoro.

Anos depois, em 1988, FHC, Montoro e Covas, principais entre os principais tucanos da história, fundaram o PSDB. Fernando Cury — esse que agora garante não ter assediado Isa Penna — estava na barriga de sua mãe quando o pai Jamil foi candidato a deputado estadual naquela mesma eleição, em 1978, que catapultou a carreira política de seu ídolo. Jamil Cury conseguiu se eleger prefeito em 1983, mesmo ano em que FHC assumia o posto de Montoro.

“Fui presidente do Clube dos Tucaninhos de Botucatu, uma iniciativa do PSDB (partido que me pai ajudou a fundar, junto com Mario Covas, Fernando Henrique e Franco Montoro) para despertar a consciência política nas crianças”, conta o próprio Fernando Cury em seu site. “Ao longo de minha adolescência, talvez até sem me dar conta, participei de várias iniciativas relacionadas ao bem estar social, na escola, nos grupos de amigos, na faculdade de Zootecnia e de Direito”.

PREFEITURA DE BOTUCATU PAGOU R$ 5 POR UMA DAS FAZENDAS DE FHC

Depois disso o atual deputado se dedicou à produção rural. Na eleição de 2014, quando se elegeu pela primeira vez para a Assembleia, Fernando Cury ainda se definia como produtor agropecuário. Entre seus bens estava um percentual sobre 456 hectares de um imóvel rural chamado Santa Rita, informa o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), herança do avô João Cury. Outros tempos: do R$ 1,8 milhão que ele tinha em bens, R$ 1,3 milhão era dinheiro em espécie.

Em 2018, quando foi reeleito deputado estadual, Fernando Henrique Cury ficou mais pobre: passou a ter somente R$ 1 milhão. Naquele mesmo ano, De Olho nos Ruralistas começava a contar a face agrária de seu ídolo, FHC, em uma série de reportagens sobre a face agrária do ex-presidente: “FHC, o Fazendeiro – tudo sobre as terras da família, os amigos pecuaristas e a Odebrecht“.

A série começou a ser publicada em maio de 2018. Dois meses depois, CartaCapital — em reportagem produzida por este observatório — trazia mais informações sobre as terras de FHC no interior paulista: “FHC, o Fazendeiro —Prefeitura de Botucatu pagou R$ 5 por uma das fazendas da família“. Aquela era a história de uma desapropriação muito peculiar: a prefeitura tucana pagou R$ 5 por uma fazenda que custara, seis anos antes, R$ 643 mil.

Por quê? Parte das respostas se encontra no livro “O Protegido — por que o país ignora as terras de FHC” (Autonomia Literária, 2019). A publicação, lançada no ano passado, mostra que as terras restantes de FHC e de seus três primeiros filhos vai ser valorizada com a construção da Represa do Rio Pardo, motivo da desapropriação a preço de banana.

A medida foi tomada durante a gestão do tucano Mario Pardini, mas idealizada na gestão — igualmente tucana — de João Cury Neto, o irmão do deputado da mão boba. Tudo isso antes que os irmãos trocassem o PSDB pelo Cidadania, para que Cury Neto assumisse a Secretaria de Estado da Educação do breve governo de Márcio França (PSB). Na época, Pardini agradeceu àqueles que haviam doado terras para a construção da represa, “em nome de Jovelino Mineiro”.

O pecuarista Jovelino Mineiro não doou terra nenhuma para a represa. Ele tinha uma empresa de genética bovina na região, que também fez uma doação simbólica para a prefeitura tucana, localizada em terras contíguas à de FHC. E, principalmente, era e é o braço agrário de Fernando Henrique Cardoso. O livro “O Protegido” mostra a importância de Jovelino na trajetória de FHC, o que inclui seus tentáculos em Botucatu, reino dos Cury.

Imagem principal: Fernando Cury na Assembleia (Reprodução), FHC nas Diretas Já (Reprodução) e canavial em Botucatu (De Olho nos Ruralistas)

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