Nossa fé é antirracista, em defesa das vidas negras!

Coalizão Negra por Direitos

“Eu vou morrer! Eu vou morrer!”
“Eu não consigo respirar!”
“Ele não viu que eu estava com o uniforme da escola?”
“Por que o senhor atirou em mim?”
“Não precisa me matar, senhor…”
“Quero a minha mãe!”

As frases foram ditas por pessoas diferentes, adultos, jovens e crianças, em ocasiões e locais diferentes e distantes entre si. Estas palavras são gritos de pessoas negras que tiveram suas vidas interrompidas violentamente pelo racismo.

Grande parte da construção econômica e social da sociedade brasileira teve como base a escravização de seres humanos indígenas e africanos. Segmentos da elite branca racista desde sempre têm se mantido ligados ao poder político e econômico deste país. O racismo é naturalizado no Brasil, de forma que a sociedade brasileira está habituada e é conivente com a barbárie que dizima vidas negras. As desigualdades e injustiças sociais que afetam desproporcionalmente a população negra, bem como o assassinato de pessoas negras, violento e corriqueiro, não comovem, não mobilizam, não revoltam.

Em 19 de novembro de 2020, o Brasil assistiu às imagens devastadoras do assassinato de João Alberto Silveira Freitas, pelas forças de segurança privada do supermercado Carrefour, na cidade de Porto Alegre. Beto foi vítima de um crime que demonstra, em toda a sua crueldade, a desumanização dos corpos negros no Brasil. Coube aos movimentos negros e pessoas negras, como sempre, quase absolutamente solitárias, protestar em diversas cidades brasileiras. Esta justa indignação mais uma vez não teve a companhia do conjunto da sociedade. Ao contrário, ela segue assistindo silenciosamente aos casos de violência policial e civil contra pessoas negras. Crianças, mulheres e jovens negras e negros assassinados todos os dias, sem que isso motive uma crise moral, ética ou humanitária capaz de nos levar a assumir e enfrentar o racismo brasileiro.

No Brasil um jovem negro é assassinado a cada 23 minutos; 75% dos mortos por arma de fogo são negros; nos últimos 3 anos, mais de 2.200 crianças e adolescentes foram assassinadas por policiais em todo país. Pessoas negras são frequentemente torturadas e assassinadas em estabelecimentos comerciais, como aconteceu com Beto no Carrefour. Até quando seremos capazes de conviver com tamanha atrocidade? O quanto a leniência coletiva, da sociedade, das instituições e dos poderes frente ao genocídio negro ainda será tolerado? Passou da hora de dar um basta! O manifesto histórico promovido pela Coalizão Negra por Direitos neste ano de 2020 sintetiza nosso desafio: “Enquanto houver racismo, não haverá democracia!”. Pois reafirmamos: Enquanto houver racismo, não viveremos a plenitude de nossa humanidade.

As expressões de fé que representam a diversidade religiosa brasileira, os povos e comunidades tradicionais, as religiões afro-brasileiras e organizações de direitos humanos se unem e conclamam a sociedade para se mobilizar no amor, na fraternidade, na comunhão dos valores da vida, da humanidade e pelo fim da tortura, dos espancamentos e das mortes de pessoas negras no Brasil.

Que esta comunhão nos provoque a assumirmos o espírito das palavras de Nelson Mandela: “Ninguém nasce odiando outra pessoa por sua cor da pele, sua origem ou sua religião. As pessoas podem aprender a odiar e, se podem aprender a odiar, pode-se ensiná-las a aprender a amar. O amor chega mais naturalmente ao coração humano que o contrário.”

Nossa fé, em sua diversidade e sincretismo, é essencialmente antirracista e está a serviço da defesa das vidas negras.

Junte-se a nós! Acesse com racismo não há democracia

Participam do vídeo:
Winnie Bueno – Coalizão Negra Por Direitos
Matheus Gomes – Vereador em Porto Alegre
Monja Coen – Comunidade Zen Budista
Dom Zanoni Demttino Castro – CNBB / Pastoral Afro-brasileira
Gleidson Renato Martins Dias – MNU
Sheik Mohamad Al Bukai – Mesquita Brasil
Baba Diba de Iyemonja – Renap-Saúde
Juana Kweitel – Conectas
Revda. Lilian Conceição da Silva – IEAB
Rabino Ruben Sternschein – Congregação Israelita Paulista
Pastora Cibele Kuss – Fundação Luterana de Diaconia
Douglas Belchior – Uneafro Brasil
Jurema Werneck – Anistia Internacional Brasil
Iyá Sandrali de Oxum – Rede Nacional de Religiões Afro-brasileiras e saúde
Mãe Meninazinha de Oxum – Ilê Omolu Oxum (RJ)

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Amyra El Khalili

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