Vacinação universal, como bem público, só é possível com o Fora Bolsonaro

Reunião da Coordenação Nacional do MST reúne mais de mil pessoas em seu primeiro dia de estudos

Por Fernanda Alcântara e Solange Engelmann, na Página do MST

Dando início ao calendário organizativo de 2021, parte do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), se reuniu on-line na manhã desta quinta-feira (28) para celebrar, debater e organizar o calendário de lutas do próximo período.

Mais de mil pessoas participaram deste primeiro momento, destinado ao estudo e apresentação de diversas perspectivas da conjuntura atual.

As pautas apresentadas firmam o compromisso na luta pela Reforma Agrária Popular, contra a retirada de direitos do povo brasileiro, em defesa do meio ambiente e da soberania nacional.

Seguindo todas as normas de segurança e prevenção contra o coronavírus, que já vitimou mais de 218 mil pessoas, as atividades acontecem de maneira virtual, o que ajuda também na capilaridade dos eventos.

Para João Paulo Rodrigues, da direção nacional do Movimento, essa é uma forma de celebrar a vida e a resistência. “

Avaliamos que é importante nos encontrarmos, olhar para cada um, nos abraçarmos, mesmo que virtualmente”, disse.

Luta em defesa da vida

O médico sanitarista, professor universitário e ex-ministro da Saúde, Arthur Chioro, analisou a situação da saúde no Brasil. Na contramão do projeto de morte e da dinâmica institucional de disseminação da pandemia pelo governo Bolsonaro no país, ele defende que a prioridade nesse momento é a luta em defesa da vida. Para isso, a população precisa defender o Sistema Único de Saúde (SUS), a vacina gratuita para todos e todas e o Fora Bolsonaro.

“Precisamos nos unir em defesa do SUS, da vacina e do impeachment do Bolsonaro, além de defender a vacina como um bem público da humanidade, para garantir a vida. É preciso lutar para que o SUS tenha recursos e acabar com a Emenda 95, do teto de gastos. É de uma perversidade revoltante o governo tentar privatizar o SUS nesse momento”, avaliou o médico.

Com mais 220 mil pessoas mortas pelo covid-19 até o momento, Chioro explicou que o cenário da vacinação é desastroso, por conta das posturas criminosas adotadas pelo governo federal na pandemia. Para ele, o Brasil errou desde o início ao apostar em uma única vacina, quando haviam 13 laboratórios com vacinas em teste no mundo. Também errou por não valorizar a atenção primária e a prevenção com o isolamento das regiões mais afetadas. Ele também citou a incapacidade da indústria em não oferecer oxigênio e equipamentos para a produção de insumos para vacina. “É inaceitável que as pessoas morram por falta de oxigênio, é como se deixassem as pessoas morrendo de sede ou fome”, afirmou.

Diante desse cenário, o médico sanitarista pontou que, mesmo que nesse momento o país tente vacinar toda população brasileira, isso não deve ocorrer devido a incapacidade do governo em comprar a vacina.

“Estamos condenados a chegar em 70% da população vacinada somente no segundo semestre de 2020. Isso é inaceitável, o Brasil precisa de um freio de arrumação, que é efetivamente o impeachment do Bolsonaro”, defendeu.

Vacina como bem público da humanidade

A professora Monica Bruckmann apresentou uma análise voltada ao cenário global sobre os desafios, mostrando a complexidade das forças sociais para o próximo período com foco em dados sobre a Covid-19 e os impactos da pandemia.

Segundo a análise, atualmente a pandemia desencadeou a terceira maior crise deste último século, sendo a maior desde a II Guerra Mundial. “Sabemos que esta crise não vai terminar tão cedo, que a vacina não vai resolver tudo em meses. Essa recuperação vai demandar tempo e, principalmente, ações que consigam dialogar com a ideia de uma vacina como bem público da humanidade”.

A apresentação vai de encontro com a perspectiva da Organização Mundial da Saúde (OMS), que defende que a solução da pandemia não está em políticas nacionais ou regionais, mas em ações que envolvam a população global em conjunto. “As ações do atual governo brasileiro representam um grande retrocesso social. Ainda para Monica, em 2021 teremos como elemento de mudança as lutas populares, a partir das “correlações das mobilização populares muito intensas e do agravamento das crises políticas e sociais”.

A professora também pontuou o início do governo de Joe Biden, que sinalizou medidas mais rígidas para o controle da Covid-19, bem como tentativa de recuperar espaço na política internacional. Ela chamou atenção também para a fala do líder chinês, Xi Jinping, que durante essa semana falou sobre “a necessidade de recuperar o multilateralismo e estado de direito, contra o preconceito ideológico, contra a arrogância, o preconceito e o ódio”, concluindo que a China é uma aliança importante para a América Latina.

Compreender a realidade para transformá-la

O professor universitário, historiador marxista e político brasileiro Valério Arcary seguiu o debate apresentando a conjuntura política nacional, fazendo uma reflexão sobre o momento de “crise do governo”.

Em sua fala, Arcary ressaltou a importância de “compreender a realidade para transformá-la, pois quem não sabe contra quem luta não consegue vencer”, avaliou.

Segundo Arcary, a crise explícita no Governo Federal, principalmente no que diz respeito à frente aos estados, se deve principalmente à catástrofe apocalíptica no Amazonas, que não tem na variante do Covid-19 o principal problema, mas, sim, a incapaz e irresponsável ação dos governos Federal e Estadual.

“Os investimentos deste governo não foram destinados para salvar vidas, mas para salvar empresas, lembrou.

Arcary pontuou ainda que o pouco de recuperação que houve no país aconteceu apesar do governo Bolsonaro, já que a pandemia teria um efeito destrutivo equivalente a uma guerra e que só não aconteceu por causa do auxílio-emergencial. “Agora, em 2021, a desculpa deste governo é que tudo tem que caber no teto dos gastos. Eles podem flexibilizar todas as leis, menos o teto de gastos”, afirmou o professor.

Arcary concluiu sua fala apresentando alguns desafios da esquerda em relação às diferentes estratégias e táticas adotadas em relação ao #ForaBolsonaro, e parabenizou o MST pela postura combativa diante das próximas ações. “Mesmo nesta situação reflexiva, é essencial confiar na força de coque dos movimentos populares que podem, sim, derrubar o governo Bolsonaro. Podemos usar esta tática. E porque temos pressa, andamos devagar”, finalizou.

Lutas centrais da classe trabalhadora

No contexto de luta e busca de esperança da classe trabalhadora brasileira, após 11 meses de pandemia, relembramos que em 2021 o MST está completando 37 anos de luta e resistência e os 16 anos de fundação da Escola Nacional Florestan Fernandes, em Guararema, São Paulo.

Em tom de comemoração e resistência ativa na luta pela Reforma Agrária durante a pandemia, a dirigente nacional do MST, Kelli Mafort, chamou atenção para necessidade da classe trabalhadora brasileira fortalecer a luta popular em torno de três bandeiras centrais: a vacinação já e a defesa da vida, a volta do auxilio emergencial e o Fora Bolsonaro.

“Algumas pesquisas mostram que o projeto de extermínio de uma parte da população faz parte de uma política institucional do governo Bolsonaro. Por isso, precisamos forçar essas três palavras de ordem junto à Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo”, defendeu.

Enquanto os dois mil bilionários existentes no mundo, segundo relatório da Oxfam, aumentaram seus lucros durante a pandemia e o agronegócio, que destrói o meio ambiente e colabora no surgimento de pandemias, também seguir lucrando no país, a população mais pobre sofrerá com o aumento no preço de alimentos, a falta de oxigênio, de vacina e com a morte por Covid-19.

Segundo a dirigente nacional do MST, a classe trabalhadora foi a mais afetada durante a pandemia, com a precarização das condições de trabalho, redução de salários, chegando a 14 milhões de desempregados. O que também tem prejudicado muito a vida dos trabalhadores rurais e das mulheres. “Esse modelo extremamente desigual afeta o povo do campo que não teve direito ao auxilio emergencial e também as mulheres. Levantamentos mostram que entre as mulheres que receberam auxilio, metade não estão no bolsa família, o que significa que estão em condições precárias e de vulnerabilidade social”, argumentou.

Por isso, mesmo estando em um momento de isolamento é fundamental que as trabalhadores e trabalhadores usem a criatividade para praticar outras formas de manifestações.

“Precisamos fazer a resistência ativa, mas também ir construindo processos de governos populares. Juntar esforços para organizar o trabalho de base, junto às classes trabalhadoras urbana e fortalecer o caminho da luta. Só a luta altera a correlação de força e muda a sociedade”, concluiu Kelli.

*Editado por Maura Silva

Médico sanitarista e professor universitário Arthur Chioro. Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

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