O fim da Operação Verde Brasil 2, anunciado por Mourão nesta semana, colocou em xeque a estratégia recente do governo Bolsonaro para combater crimes ambientais na Amazônia, pautada principalmente pelo uso das Forças Armadas em substituição aos fiscais do Ibama e do ICMBio. Mesmo com mais de R$ 400 milhões gastos nos últimos nove meses, o balanço da presença militar na região é indigesto. “Foi uma operação tapa-buraco”, disse André Trigueiro na Globonews, destacando o improviso da resposta governamental à crise ambiental na Amazônia no ano passado.
“O Exército foi para reduzir o crime ambiental, mas teve papel pouco efetivo”, afirmou o cientista Carlos Nobre em entrevista ao Estadão. “Havia uma mensagem caótica do governo federal. Por um lado, a ação no campo dos militares; por outro, uma ação infralegal de enfraquecimento da legislação ambiental. Esta última ganhou a guerra”. Nobre também ressaltou que o eventual retorno da fiscalização pelas equipes dos órgãos ambientais é uma boa notícia, mas é necessário que haja novos investimentos para se melhorar a capacidade de ação dos fiscais.
Sobre o novo plano de ação do governo federal na Amazônia, voltado principalmente para 11 municípios mais críticos em desmatamento ilegal, especialistas consultados por O Globo avaliaram que o foco mais orientado faz sentido, mas que o número de cidades talvez precise ser maior, para se conseguir maior eficiência nas atividades de fiscalização. No entanto, como Míriam Leitão lembrou na CBN, a ação concentrada pode ser insuficiente para frear os crimes ambientais, já que o desmatamento se propagou nos últimos tempos, especialmente por conta do discurso irresponsável do governo Bolsonaro. “Os criminosos estão avançando, o Exército vai recuar e os órgãos estão fragilizados. O risco de piorar é muito grande”.
O Valor também repercutiu as reações ao novo plano do governo contra o desmatamento.
Em tempo: Para quem puder, vale a pena ler a reportagem de Bryan Harris no Financial Times sobre o boom econômico que resiste no Mato Grosso, impulsionado pelo crescimento do agronegócio e pelas políticas e falas pró-ruralistas do governo Bolsonaro – e conquistado às custas da floresta. Poucas regiões do Brasil são tão representativas dos conflitos políticos, econômicos, sociais e morais vividos pelo país como essa “nova fronteira” do agronegócio no Centro-Oeste.