Depois de dois anos de desmonte ambiental, complementados pelo desastre que tem sido a resposta à pandemia, a imagem do Brasil de Bolsonaro no exterior poucas vezes esteve tão ruim. No Estadão, Célia Froufe destacou os resultados de um estudo feito pela consultoria Curado & Associados sobre a percepção internacional do país nos últimos tempos. Segundo a análise, 92% de 1.179 textos publicados em veículos estrangeiros ao longo de 2020 apresentaram um viés negativo sobre o governo Bolsonaro. Numa escala de -5 a +5, a imagem brasileira ficou com -3,38. Entre as percepções mais predominantes sobre o atual governo na imprensa estrangeira, destacaram-se “incompetente” e “vulnerável”. Já no aspecto ético, o adjetivo mais frequente foi “irresponsável”.
O desprestígio internacional do Brasil sob Bolsonaro já causa problemas para a política externa e o comércio exterior do país. O acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, tido como o resultado mais importante da diplomacia brasileira no atual governo, segue obstruído entre os países europeus por causa do aumento do desmatamento e das queimadas na Amazônia. “Se não houver avanços [na redução do desmatamento], não será possível assinar esse acordo”, afirmou o embaixador da UE no Brasil, Ignacio Ybáñez. “Vamos continuar exigindo esses avanços até que haja resultados concretos. O Brasil sabe o que precisa ser feito”.
Ontem (11/2), mais de três semanas após a posse do novo governo dos EUA, aconteceu o 1º contato oficial entre Washington e Brasília, com uma conversa entre o novo secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, e o chanceler Ernesto Araújo. Segundo o Itamaraty, a conversa foi “excelente” e serviu para identificar uma “ampla agenda de ação conjunta” entre os dois países, com destaque para as “questões do clima e meio ambiente”. CNN Brasil, Folha e O Globo repercutiram a conversa entre Blinken e Araújo.
Nas últimas semanas, grupos dentro e fora dos EUA vinham pressionando Biden a adotar uma postura mais contundente contra o Brasil por conta da situação da Amazônia. No entanto, a Casa Branca deve evitar confrontos imediatos com o país, mas não afasta a possibilidade de manifestações mais duras no futuro caso a Floresta siga sendo devastada. Segundo o Valor, parlamentares brasileiros estão trabalhando para evitar que o azedume político entre Brasil e EUA coloque em risco o acordo de salvaguardas tecnológicas com os EUA e da base de lançamentos espaciais de Alcântara (MA). Isso porque a base foi um dos alvos do dossiê encaminhado a Biden na semana passada por ambientalistas e acadêmicos, com recomendações para suspensão do acordo por conta dos impactos sofridos por Comunidades Quilombolas na região.