O Cimi Regional Norte 2 manifesta sua solidariedade e apoio ao povo Tembé, impactado pelo assassinato do jovem Isaac Tembé, e exige a imediata investigação deste e de outros casos que ficaram na impunidade
No Cimi
O Conselho Indigenista Missionário – Cimi Regional Norte 2 vem a público manifestar sua solidariedade e apoio ao povo Tembé, que está impactado com o assassinato do jovem indígena Isaac Tembé, de 24 anos, no último dia 12 de fevereiro, pela ação de extrema violência da Polícia Militar do Estado do Pará, no município de Capitão Poço, em propriedade conhecida como Fazenda do Nédio, próxima à Terra Indígena (TI) Alto Rio Guamá.
O jovem Isaac, de acordo com relato de testemunhas, foi acuado numa ilha de mato na própria fazenda, onde foi executado à queima roupa, com um tiro certeiro no coração, evidenciando que não houve troca de tiros, como alega a polícia. Considerando que o fato ocorreu à noite, mais contraditório fica o relato da polícia. Chama-nos a atenção que não fez parte da ação dos policiais envolvidos o direito de detenção do jovem para posteriores procedimentos legais.
Não bastasse tamanha violência, testemunhas relatam que a cena do crime foi modificada, com a remoção do corpo da vítima do local. A ação da polícia está em desconformidade com seu papel, uma vez que não é função da PM fazer vigilância de propriedades particulares, nem agir com violência indevida contra qualquer cidadão.
Nada justifica esta violenta e cruel ação da polícia contra uma vida humana. Isaac era um jovem de apenas 24 anos de idade, professor, trabalhador, liderança de seu povo, casado, e deixa sua esposa grávida de seu primeiro filho.
É oportuno lembrar que a morte de mais este jovem indígena soma-se às mortes de outros 16 jovens que vêm acontecendo no município de Capitão Poço desde 2019.
Exigimos a imediata investigação deste e de outros casos que ficaram na impunidade e o desbaratamento dessa quadrilha criminosa que mata jovens e dilacera as famílias do município de Capitão Poço.
Cobramos, ainda, a fiscalização e a retirada dos invasores da TI Alto Rio Guamá, a qual, segundo denúncia do povo Tembé, é constantemente acossada por madeireiros e fazendeiros. Apesar de homologada e regularizada, a terra indígena tem mais da metade de seus 279 mil hectares ocupados ilegalmente por fazendeiros, situação que afeta diretamente o direito de usufruto do povo Tembé sobre seu território tradicional.
Que seja feita a justiça, pois o povo Tembé clama e lutará até o fim para que este caso não caia na impunidade.
Belém, 15 de fevereiro de 2020
Conselho Indigenista Missionário – Cimi Regional Norte 2
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Isaac Tembé. Foto: reprodução