Povo Tembé-Theneteraha denuncia assassinato de Isac Tembé como parte da luta que trava pela terra tradicional

“Há décadas lutamos contra essa violência e não vamos parar até que nenhum metro de nossa terra esteja ilegalmente ocupado”, diz trecho da nota divulgada

No Cimi

O professor Isac Tembé, de apenas 24 anos, saiu na última sexta-feira, 12, com um grupo de indígenas, para caçar e não retornou à sua casa, na Terra Indígena Alto Rio Guama, em Paragominas, no nordeste do Pará. Ele foi morto depois de um ataque sem justificativa desferido por policiais militares.

A morte é a crônica de uma tragédia anunciada. O povo Tembé-Theneteraha sofre, de maneira recorrente, ameaças e ataques. Em setembro de 2019, por exemplo, o Ministério Público Federal (MPF) requisitou à Polícia Federal e ao comando do Exército em Belém (PA) operação urgente para evitar ataques de madeireiros contra os indígenas.

Abalado, o povo Tembé-Theneteraha divulgou uma nota denunciando o assassinato como parte deste contexto a que está submetido em uma terra que lhe pertence. Denunciam também que os policiais atribuíram ao professor morto associação a atividades criminosas. “A Polícia Militar assassinou duas vezes Isac Tembé: mataram seu corpo e tentam matar sua memória quando atacam a índole de nosso jovem guerreiro e liderança exemplar”, diz trecho da nota.

Na nota, o povo reforça ainda que “nosso território sofre diariamente invasões e ataques por parte de exploradores ilegais de madeira ou de fazendeiros que insistem em manter a ocupação de partes da Terra Indígena Alto Rio Guama, através de cabeças de gado e de outras atividades econômicas”.

Leia a nota na íntegra:

Nota Pública do Povo Tembé-Theneteraha

O coração do povo Tembé-Tenetehara sangra com o brutal assassinato do nosso jovem guerreiro Isac Tembé. A bala que lhe tirou a vida, com apenas 24 anos, atingiu a todos que desde tempos imemoriais habitamos essa terra e fazemos a permanente defesa da floresta e de nossos saberes tradicionais.

O jovem Isac foi executado a tiros por policiais militares na noite da última sexta-feira, 12. Ele saiu para caçar depois de um dia de trabalho na construção de sua casinha para morar com sua família. Perguntamos: por que esses agentes da segurança pública servem de milícia privada para  fazendeiros que invadem terra indígenas? Por que chegaram atirando contra nossos jovens, filhos, netos e sobrinhos, que caçavam, prática que faz parte da cultura de nosso povo?

A Polícia Militar assassinou duas vezes Isac Tembé: mataram seu corpo e tentam matar sua memória quando atacam a índole de nosso jovem guerreiro e liderança exemplar.

Isac era um cidadão honrado, professor de história, atuante na comunidade e na organização da juventude. Sua esposa está grávida e em breve dará à luz a mais uma criança Tembé, garantia da continuidade deste povo originário. Jamais se envolveu em qualquer ato ilícito e nunca em sua vida portou ou disparou uma arma de fogo.

Por isso, repudiamos como mentirosa a versão dos policiais militares, que alegam ter reagido a uma agressão a tiros. Somos um povo da alegria e da festa; um povo pacífico, ordeiro e cumpridor da lei. Exigimos das autoridades uma apuração rápida, transparente e rigorosa, a fim de identificar e punir os responsáveis por esse crime.

Nosso território sofre diariamente invasões e ataques por parte de exploradores ilegais de madeira ou de fazendeiros que insistem em manter a ocupação de partes da Terra Indígena Alto Rio Guama, através de cabeças de gado e de outras atividades econômicas.

Há décadas lutamos contra essa violência e não vamos parar até que nenhum metro de nossa terra esteja ilegalmente ocupado. Não temos medo. A Constituição Federal protege nossos direitos e o Estado brasileiro precisa fazer cumprir o que manda a Lei maior.

Apelamos às autoridades do Brasil e do mundo para que não nos deixem sós!

Exigimos que Funai, MPF, Polícia Federal e todos os órgãos competentes venham até o nosso território e vejam o que passamos.

Exigimos perícia no local do ocorrido. Exigimos resposta urgente pois não vamos nos calar e deixar que esse crime permaneça impune.

Que a memória viva de Isac Tembé fortaleça nossa caminhada. Que o espírito dos nossos ancestrais guie o povo Tembé-Tenetehara em sua luta em favor da vida.

Convocamos a imprensa e as autoridades para uma reunião pública, nesta segunda (15), às 10 horas, na aldeia São Pedro, Terra Indígena Alto Rio Guama, ocasião em que o povo Tembé decidirá o caminho da luta em busca de justiça.

Exigimos justiça !

Punição dos assassinos e mandantes da morte de Isac Tembé !

Terra Indígena Alto Rio Guama, 14 de fevereiro de 2021.

Isac Tembé era professor de história e tinha 24 anos. Terra Indígena está invadida por fazendas e madeireiros. Crédito da foto: Isac Tembé/Arquivo em Rede Social

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