Incidente com Araújo aprofunda desprezo de diplomatas por chanceler. Por Jamil Chade

UOL

O chanceler Ernesto Araújo foi buscar em Israel uma solução para lidar com a pandemia. Mas, segundo seus próprios diplomatas, ele já deveria embarcar de volta antes mesmo de passar a primeira noite no país.

De forma irônica e sempre no anonimato diante do que chamam de clima de “caça às bruxas”, funcionários do Itamaraty comentam que o seu chefe já descobriu que parte do sucesso do governo de Tel Aviv em lidar com a crise sanitária não vem da vacina ou de um spray testado em apenas 30 pessoas. Mas, acima de tudo, de medidas de distanciamento social e do uso da máscara, que ele tanto despreza.

Neste domingo, o incidente envolvendo o ministro brasileiro, que levou um pito em público das autoridades israelenses que pediram para ele colocar a máscara, não apenas revelou a dimensão do ridículo da postura internacional do Brasil.

Internamente, no Itamaraty, o incidente também foi recebido como uma comprovação da distância que o chefe da diplomacia brasileira está do restante do mundo, inclusive de alguns de seus últimos aliados.

Já havia gerado um enorme mal-estar a decisão de Araújo de usar a abertura do Conselho de Direitos Humanos da ONU para criticar medidas de confinamento, há duas semanas. Agora, a percepção é de que o ministro descobriu que suas declarações e atitudes não serão toleradas.

Entre embaixadores experientes e mesmo entre diplomatas do escalão intermediário, o caso de Israel foi tratado com deboche. Nos grupos de WhatsApp de negociadores brasileiros, o que se constatou neste domingo foi a ampliação ainda maior do desprezo que seus próprios soldados nutrem do comandante.

O desprezo, porém, não se limita à gestão da pandemia. Nos últimos meses, passou a ser uma prática comum entre diversas divisões no Itamaraty repassar ao gabinete do chanceler o “mínimo de informação possível” sobre posições que o Brasil deveria tomar.

Isso, segundo diplomatas, para evitar que o ministro tenha “brilhantes ideias” e continue a queimar as pontes construídas pelo país durante décadas.

No caso de Israel, a viagem termina apenas em meados da semana. Mas os mais irônicos dentro da chancelaria já constatam que “Araújo foi buscar em Israel um spray e vai trazer uma caixa de máscara”. Já outro responde: “e Made in China”.

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