Atos contra impunidade do caso Marielle Franco encerram Jornada de Luta das Mulheres Sem Terra

Em mais de 18 estados, as Mulheres do MST também denunciaram o aumento da fome, a destruição das políticas de Reforma Agrária, o aumento das violências e o fora Bolsonaro

Por Solange Engelmann e Maura Silva, na Página do MST

Quem mandou matar Marielle Franco? Com essa e tantas outras perguntas ainda sem respostas, as Mulheres Sem Terra encerram as ações de mobilização, solidariedade e afetos da Jornada Nacional de Luta das Mulheres Sem Terra, que durante uma semana, de 08 a 14 de março, se espalharam por mais de 18 estados do país.

Neste domingo (14), ao completar três anos de impunidade do assassinato de Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), e seu motorista Anderson Gomes, as camponesas cobraram justiça para o caso da vereadora que lutava pelos direitos dos negros, das mulheres, moradores de favelas, pessoas Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros (LGBTs), e a população invisibilizada pela exclusão e os preconceitos da sociedade. As diversas ações realizadas em vários estados enceraram a Jornada das Mulheres Sem Terra, com o lema “Mulheres pela vida, semeando a resistência contra a fome e as violências”.

“As Mulheres do MST tornam público o seu repúdio contra essa violência, mais todas aquelas que têm retirado a vida de centenas de mulheres todos os dias”, afirmam as camponesas.

A partir da solidariedade, com doações de alimentos para famílias em situação de vulnerabilidade em várias periferias do país, a Jornada das Mulheres Sem Terra denunciou o aumento da fome no Brasil e a destruição das políticas de Reforma Agrária, o aumento das violências contra as mulheres, a política de morte do governo Bolsonaro e o agronegócio.

“Denunciamos o agronegócio, as empresas que lucraram com a pandemia e com a fome; o projeto genocida do governo brasileiro frente a pandemia e a paralização da Reforma Agrária (nossa única alternativa para enfrentar a fome do povo brasileiro); e denunciamos a violência contra as mulheres e os casos de feminicídio, que tem aumentando nesse contexto de pandemia”, explica Claudete de Souza, assentada no assentamento do Zumbi dos Palmares, em Iaras (SP) e da Direção Nacional do MST.

Com ações realizadas de acordo com a realidade e as condições em cada estado e local, em defesa da vida, as Sem Terra também cobraram o auxílio emergencial para as trabalhadoras e trabalhadores rurais e a vacinação em massa de toda população brasileira.

“As atividades tiveram como foco central o enfrentamento à fome, às violências, dialogando com as pautas mais gerais do fora Bolsonaro, vacinação já, em defesa do SUS [Sistema Único de Saúde], a volta do auxílio emergencial, com crédito especial para a agricultura familiar. E seguimos denunciando e enfrentando as ações violentas do capital, do patriarcado, do racismo e desse governo genocida”, ressalta Maria da Silva, assentada no assentamento João Pedro Teixeira, em Serra Talhada, no Sertão do Pajeú (PE), que integra o setor de gênero e a Direção Nacional do MST.

Este ano, devido à pandemia da Covid-19, as camponesas realizaram atividades simbólicas e descentralizadas, com muita mística, denúncias, formação e solidariedade em todo país, garantindo o distanciamento social e seguindo os protocolos de cuidados.

“Com o aumento da fome e das violências, nós mulheres do MST entendemos que precisamos nos cuidar, mas que não podemos estar em silêncio. Na semana do 8 de março, articuladas com outras mulheres das águas, do campo, das florestas e na cidade, com as mulheres do campo popular, realizamos doação de sangue de alimentos, carreatas, atividades culturais online, produção de vídeos para diálogo com a sociedade e doação de alimentos. E o plantio de árvores, fortalecendo a campanha “Plantar árvores, produzir alimentos saudáveis”, relata Claudete.

Aprendizados da Jornada

Com o país imerso na pandemia há mais de um ano e a necessidade do isolamento social para preservar vidas, além do crescimento da fome, houve também um aumento das violências contra a mulher – um dos públicos mais atingidos na pandemia. As mulheres do campo, por exemplo, tiveram as jornadas de trabalho duplicada ou mesmo triplicadas, com os cuidados da lavoura e de animais, os trabalhos domésticos e de cuidados de crianças e idosos.

Dados divulgados em 7 de março pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) mostram que foram registradas 105.671 denúncias de violência contra a mulher em 2020. Chegando a uma média de 12 denúncias por hora.

Como alternativa para enfrentar esse cenário, a assentada Maria da Silva aponta que as trabalhadoras do campo e da cidade precisam seguir realizando denúncias nas redes sociais e cobrando dos representantes no poder – deputados federais, estaduais e senadores – para a criação de projetos de lei que promovam benefícios a classe trabalhadora, e busquem amenizar as violências no campo e na cidade.

Entre as diversas lições e aprendizados da Jornada de Luta, Claudete chama atenção para a necessidade de avançar no feminismo camponês popular, como uma estratégia importante na luta de classes brasileira. “A jornada mostrou a capacidade e a necessidade das mulheres da classe trabalhadora, especialmente as mulheres Sem Terra, de resistirem e continuarem se reinventando, na construção do feminismo camponês popular”, conclui.

Confira as ações por justiça à Marielle em cada estado:

Alagoas

O coletivo de mulheres da Brigada José Elenilson, em Delmiro Gouveia; do acampamento Che Guevara, em União dos Palmares; do assentamento Roseli Nunes, na cidade de Mata Grande; do assentamento Fidel Castro, em Joaquim Gomes; do assentamento Pau de Arara, na cidade de Água Branca; e do assentamento Olga Benário, na cidade de Piranhas, prestaram suas homenagens cobrando justiça.

No Alto Sertão de Alagoas, a Brigada José Elenilson também exige justiça pelo assassinato de Marielle Franco.

Rio de Janeiro

Na Unidade Pedagógica de agroecologia do acampamento Edson Nogueira, em Macaé (RJ), uma roda de conversa relembrou a vida de Marielle Franco e sua trajetória como defensora dos Direitos Humanos.

No Aterro do Cocotá, na Ilha do Governador, foi inaugurado o Bosque Marielle Franco, celebrando sua memória com esperança de que suas sementes continuem florescendo.

No assentamento Dandara dos Palmares, em Campos dos Goytacazes, foi inaugurado um bosque com pés de ipê, abacate, laranja, limão, romã e café. Participaram da inauguração a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e o Sindipetro.

Minas Gerais

Em Governador Valadares, a ação de intervenção na rua foi adiada devido ao momento crítico que a cidade enfrenta, com a ocupação de 100% das UTIs para Covid-19. Mas a ação de solidariedade aconteceu garantindo a segurança da comunidade. Foram realizadas doações de alimentos da agricultura familiar e roupas para o residencial Sertão do Rio Doce.

Rio Grande do Norte

O assentamento popular de resistência Maria Aparecida, localizado no litoral norte do Rio Grande do Norte, homenageou a vereadora Marielle Franco, colocando seu nome na rua principal do assentamento.

Distrito Federal e Entorno

Na manhã do domingo (14), as Mulheres Sem Terra dos acampamentos Noelton Angélico, Oscar Niemeyer e Zé Pereira, em Brazilândia, e dos acampamentos 8 de Março e Roseli Nunes, em Planaltina, DF, realizaram o plantio de árvores, semeiam o legado da vereadora.

Paraíba

Mulheres Sem Terra da Paraíba também plantaram árvores em memória de Marielle Franco. São três anos semeando resistência.

Ceará

No Ceará, as mulheres Sem Terra também realizaram o plantio de árvores em homenagem a Marielle Franco.

Rio Grande do Sul

Na região Metropolitana de Porto Alegre, em Tapes, as mulheres do assentamento Hugo Chaves doaram 400kg de alimentos da Reforma Agrária produzidos por elas mesmas. No total, foram entregues 100 cestas com pão, biscoitos, arroz, sal temperado, abóbora, alfaces, cebolinha, salsa, pimentão, tudo orgânico; e sabão caseiro.

Paraná

Neste domingo (14), para resgatar o legado de Marielle Franco as camponesas da região Norte do Paraná plantaram os ‘Jardins Marielle’ e encerram a Jornada de Luta das Mulheres Sem Terra de 2021. Foram plantadas flores, ervas medicinais e árvores nativas e frutíferas nos acampamentos Fidel Castro, Zilda Arns, e Manoel Jacinto e assentamentos Eli Vive 1, Eli Vive 2 e Maria Lara, no Norte do Paraná.

Pará

Neste domingo (14), as atividades da Jornada de Lutas das Mulheres Sem Terra do Pará foi encerrada com o Festival Virtual: Pela vida das mulheres e territórios, em memória a Marielle Franco. A atividade foi organizada pela Frente Feminista do estado e transmitida pela página da Frente no Facebook, com apresentações culturais, dança, poesias de renovação e partilha da articulação feminista.

Mulheres do assentamento Fidel Castro, em Joaquim Gomes (AL), denunciam a impunidade no caso da Marielle Franco. Foto: MST em Alagoas

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