Mineração, agronegócio e urbanização são os vilões da qualidade da água no Brasil

Estudo indica que a simples aplicação das normas e leis já existente tem potencial de reverter o cenário atual

Nara Lacerda, Brasil de Fato

O uso desordenado do solo no Brasil vem causando impactos significativos na qualidade das águas e pode gerar graves consequências já nos próximos anos. Os principais vilões são a urbanização, o agronegócio e a mineração.

Para reverter o cenário, é necessário planejamento e cumprimentos das normas e leis que já existem no país. O cenário atual, com aumento de consumo e tratamento inadequado, já traz consequências e pode causar impactos por décadas.

O Brasil ainda abriga o maior volume de água doce do planeta, mas as práticas desordenadas, além de piorar a qualidade dos mananciais brasileiros,  também causam escassez.

Essas são as conclusões de um estudo brasileiro, apoiado pela FAPESP, que reuniu especialistas da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Federal do ABC (UFABC), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e das estadunidenses Universidade de Massachusetts e Universidade Estadual do Oregon.

O estudo traça um panorama nacional sobre o impacto causado por cada tipo de uso do solo nas águas. Em entrevista ao programa Bem Viver, a bióloga do Instituto de Biociências USP, Kaline Melo, cita os danos que as atividades causam aos mananciais

“Talvez a gente já sinta nos próximos anos, nas próximas décadas, porque a gente tem um aumento da população até 2050. A gente vai chegar a 9,7 bilhões de pessoas no mundo. Isso vai aumentar a demanda por água”, alerta a pesquisadora.

Kaline ressalta que a tendência é de que o problema se agrave no Brasil, mas pontua que a solução para a questão já existe. “Podemos reverter. Nosso estudo apresenta dados que com a restauração das florestas você tem um aumento da qualidade da água.”

Ainda de acordo com a pesquisadora, o cumprimento da legislação vigente também é essencial para a mudança, “Não precisamos inventar a roda. Se apenas o Código Florestal for cumprido, a gente já tem um impacto super positivo na qualidade da água no país.”

Os danos de cada prática

Uma das surpresas do estudo é o peso do impacto causado pela mineração, que ocupa espaço significativamente menor que as outras atividades. Ela representa menos de 0,1% do território brasileiro. Ainda assim, o potencial de dano é avassalador, com contaminação e possibilidade de desastres.

“Na mineração a gente tem forte contaminação por metais pesados. Vai causar um dano local, no ecossistema, mas também na saúde da população. A população vai ingerir, por exemplo, o peixe contaminado, isso vai afetar a nossa saúde”, afirma Kaline.

A pesquisadora lembra ainda que os desastres causados por rompimentos de barragens prejudicam ecossistemas inteiros e levam à degradação de águas por centenas de quilômetros.

Já a agricultura, que ocupa 28,8% do território brasileiro atualmente, leva a compactação do solo nas áreas de pasto, afeta a absorção de água e é responsável pela contaminação das águas por agrotóxicos.

Em áreas urbanas faltam soluções baseadas na natureza, proteção dos rios com vegetação, esgotamento e tratamento da água e práticas sustentáveis de construção e ocupação do solo. 

“O impacto vai depender da intensidade do manejo que é feito. Se as boas práticas são adotadas, dificilmente vai haver problemas. Se você tem saneamento básico, se você protege as áreas do entorno dos rios e mantem a vegetação, minimiza muito. Mas não é o caso do Brasil”, explica Kaline Melo.

Ouça a entrevista na íntegra abaixo do título desta matéria ou clique aqui e acesse a página do programa Bem Viver.

Edição: Vinícius Segalla

Foto: Chico Batata/Greenpeace

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