Corrida ilegal por ouro e diamantes coloca em risco o povo Yanomami

Por Bloomberg

A mineração ilegal de ouro e diamantes está se proliferando na Floresta Amazônica e ameaçando o maior grupo indígena da América do Sul que ainda vive em relativo isolamento, o Yanomami.

Grupos criminosos de mineração estão invadindo o território indígena entre Brasil e Venezuela, poluindo rios, trazendo doenças como Covid-19 e malária, e despertando temores de uma repetição da matança brutal de 16 Yanomami por garimpeiros ilegais que ocorreu na década de 1990, segundo uma pesquisa publicada na quinta-feira pelo grupo conservacionista Instituto Socioambiental e as associações Hutukara Yanomami e Wanasseduume Ye’kwana.

“Eles estão entrando como feras famintas, em busca da riqueza de nossa terra”, disse Davi Kopenawa, presidente da Associação Yanomami Hutukara, em comunicado. “Eles estão avançando muito rápido. Eles estão chegando no meio da terra Yanomami. Os garimpeiros já estão chegando à minha casa.”

O potencial desastre humanitário enfrentado pelos Yanomami é apenas a mais recente bandeira vermelha da deterioração das condições na maior floresta tropical do mundo sob o governo do presidente Jair Bolsonaro, que confrontou o então candidato Joe Biden sobre o desmatamento na Amazônia durante a disputa presidencial dos EUA, no ano passado.

A região norte do Brasil, a 2.418 quilômetros de distância do sudeste industrializado, também foi uma das mais atingidas pela pandemia, com muitas pessoas morrendo até pela falta de cilindros de oxigênio e medicamentos.

Em 2020, garimpeiros ilegais devastaram uma área equivalente a 500 campos de futebol em terras Yanomami, à medida que se aproximavam cada vez mais das comunidades indígenas, de acordo com imagens de satélite e denúncias coletadas pelo estudo. Isso representa um aumento de 30% no desmatamento do território.

“Foi localizado um tipo de maquinário muito caro e pesado, então não se trata de uma mineração artesanal, é uma logística complexa, envolvendo transporte terrestre, fluvial e aéreo”, disse Marina Sousa, cofundadora da Rede Pró-Yanomami e Ye’kwana. “São características que se assemelham à mineração de médio porte, demandando uma organização empresarial e um alto investimento financeiro.”

Isso é possível porque o controle do Brasil sobre o comércio do ouro não tem freios e contrapesos suficientes para evitar que as barras ilegais do metal cheguem aos mercados internacionais, disse ela.

O Instituto Brasileiro de Mineração, um grupo que representa as principais empresas e instituições ligadas ao setor mineral do país, disse que não há atividades de mineração legal e industrial nas terras indígenas do Brasil e que é necessário que as autoridades policiais façam o combate às operações ilegais.

As invasões também aumentaram a preocupação sobre a violência sexual nas comunidades, disse Marina Sousa.

“Esta é a nossa luta e continuaremos a denunciar abusos”, disse Kopenawa. “Vamos lutar sem medo, estamos defendendo nosso direito, nossa Mãe Terra.”

Imagem: Garimpo entre os rios Mucajaí e Uraricoera, que dividem a terra indígena Yanomami, em Roraima — Foto: Exército Brasileiro/ Divulgação

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