Nota da ABA em defesa do Museu Nacional e da UFRJ

Foi com indignação e revolta que a Associação Brasileira de Antropologia tomou conhecimento da notícia publicada no jornal Folha de São Paulo no dia 26/03/2021, a respeito do projeto governamental de transformar o Museu Nacional em um centro turístico orientado para homenagear o período do Império em nosso país[1].

A ABA torna público seu repúdio a mais este ataque a uma instituição científica. Pertencente à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), reconhecido nacional e internacionalmente como um centro de excelência em pesquisa, o Museu Nacional, uma instituição bicentenária, reúne contribuições da maior relevância em Antropologia, Arqueologia, Botânica, Zoologia, Paleontologia, Linguística e Arqueologia.

O Museu Nacional (fundado em 1818), desde cedo, abrigou, de forma viva e dinâmica, o observatório astronômico e um museu de ciências. No século XX, projetou-se como um importante centro de pesquisa de Arqueologia, Antropologia, Botânica e Zoologia. Abriga professores e pesquisadores de renome científico nacional e internacional, o que o consolidou como um dos maiores centros históricos, científicos e culturais do país e do mundo.

Como parte integrante da UFRJ, abrigou o primeiro curso de pós-graduação em Antropologia Social e assim contribuiu para formar a vasta rede de antropólogos hoje existente. Seus professores e pesquisadores contribuíram decisivamente para o desenvolvimento da Antropologia em um grande número de universidades.  O Museu Nacional, desse modo, somou-se aos vários núcleos de excelência dessa e de outras universidades, usufruindo de um verdadeiro reconhecimento acadêmico e científico.

Há pouco tempo, em 2018, o Museu Nacional sofreu um incêndio que levou à perda de uma parte significativa de seu acervo e de sua arquitetura, provocando um enorme prejuízo ao trabalho científico e ao patrimônio ali existentes.

A tragédia que o atingiu já revelava um evidente descaso com as condições de trabalho dos nossos cientistas e de suas instituições. No entanto, a mobilização solidária do mundo da ciência, da cultura e do patrimônio deu origem a um projeto de reconstrução do Museu Nacional, com apoios nacionais e internacionais, apontando para um horizonte de esperança e renovação.

A ABA vem a público apoiar e se associar a todos e todas que têm se dedicado à reconstrução e à defesa do Museu Nacional, agora, mais uma vez, alvo de graves ameaças.

Manifestamos o nosso profundo desacordo com essa política governamental, que seguidamente despreza o empenho das comunidades voltadas para a ciência, a cultura e o patrimônio da nossa sociedade. É preciso dar um basta ao desmonte das instituições de pesquisa e de produção de conhecimento em nosso país.

Brasília, 29 de março de 2021.

Associação Brasileira de Antropologia – ABA

Leia aqui a nota em PDF.

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[1] https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2021/03/governo-quer-transformar-museu-nacional-em-palacio-imperial-e-deixar-acervo-fora.shtml [Acesso em 28/03/2021].

Foto: Reuters

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