Liderança Paulo Tupinikim ressalta preocupação com leitos no norte do Estado, que registra ocupação de 98%
Por Sara de Oliveira, Século Diário
Os números da pandemia do coronavírus seguem crescendo no Espírito Santo, com impactos também entre os povos indígenas Tupinikim e Guarani. Desde o início do ano, cinco indígenas aldeados morreram com Covid-19, como apontam lideranças de Aracruz, norte do Estado.
Somado aos casos de indígenas residentes em centros urbanos, o número de óbitos causados pela Covid-19 sobe para nove.
O coordenador geral da Articulação Dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme), Paulo Tupinikim, informou que cerca de 4,3 mil indígenas vivem nas 12 aldeias de Aracruz. Ele afirma que o número de casos voltou a crescer no final do último mês, junto ao avanço da pandemia no Estado, e segue em alta.
Dentre eles, 284 foram contaminados pela Covid-19 desde o início da pandemia, iniciada há mais de um ano. Em todo o Espírito Santo, 652 pessoas autodeclaradas indígenas foram infectadas pelo novo coronavírus até essa terça-feira (6).
Uma das preocupações neste momento é a taxa de ocupação dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e enfermaria destinados à Covid-19. Paulo relata que, no final de fevereiro, um indígena aldeado precisou ser transferido para Colatina, noroeste do Estado, por falta de leitos disponíveis em Aracruz.
“Mesmo que tenha toda essa articulação para conseguir leitos em outros municípios, também tem o problema da demora, e nós estamos vendo a gravidade da pandemia em todo o Estado”, ressalta.
De acordo com dados do Painel Covid-19, a ocupação dos leitos de UTI destinados a pacientes com coronavírus nos hospitais da região norte do Espírito Santo atingiu 98,72% nessa segunda-feira (5).
A Secretaria de Estado de Saúde (Sesa) informa, oficialmente, quatro óbitos entre indígenas este ano, um a menos dos registros das lideranças.
Grupo prioritário
Uma esperança para diminuição dos casos nas aldeias de Aracruz é o início do resultado efetivo da imunização. De acordo com a Sesa, 100% das doses de vacinas contra a Covid-19 foram distribuídas para maiores de 18 anos aldeados. Atualmente, o Estado alcançou 93,26% de cobertura para a primeira dose entre os povos indígenas e 82,63% para a segunda aplicação.
A secretaria de Saúde informou, ainda, que alguns indígenas não foram imunizados por casos de gravidez ou contaminação pela doença, mas as doses estão garantidas.
Covid-19 nas aldeias
De acordo com o Painel Covid-19, a maior parte dos indígenas contaminados pelo novo coronavírus no Espírito Santo são do sexo feminino. Foram 355 mulheres e 297 homens, considerando aldeados e moradores de centros urbanos.
A letalidade da doença entre os povos indígenas no Espírito Santo é de 1,4%. O maior índice de contaminação se concentra em pessoas com idade entre 20 e 29 anos, faixa etária que contou com 150 casos confirmados desde o início da pandemia.
“No começo, o pessoal estava com aquele medo do vírus, mas começou a ver o comportamento até dos próprios gestores, relaxando o isolamento, e perdeu o medo. Não conseguimos ter um controle para manter todo mundo no isolamento, mas nosso papel é orientar”, exaltou a liderança Tupinikim.
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Imagem: coordenador geral da Articulação Dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme), Paulo Tupinikim – Tati Beling/Ales