Cúpula climática: o que está na mesa para o Brasil vai além da questão financeira

ClimaInfo

A redução da questão ambiental no Brasil (e a frustração internacional com o descaso do governo nessa seara) a um problema de “falta de caixa” – como vem sendo feito pelo governo Bolsonaro – ignora as ramificações que um fracasso diplomático nas conversas com os EUA pode causar à situação política e econômica do país. Beatriz Bulla destacou no Estadão os efeitos potenciais de um desentendimento político entre a Casa Branca e o Palácio do Planalto sobre as relações bilaterais, pautadas cada vez mais pela preocupação com o meio ambiente e a mudança do clima. Camilo Rocha também fez uma análise parecida no Nexo Jornal. Já n’O Globo, Renato Grandelle sintetizou os dilemas enfrentados pelo governo brasileiro nas conversas climáticas com os EUA em dez questões-chave.

Na Folha, Ana Carolina Amaral situou o debate climático dentro de um cenário geopolítico mais amplo, no qual os EUA de Joe Biden priorizam o enfrentamento da crise climática em sua política externa e correm contra o relógio – e contra quem se colocar no meio do caminho – para compensar o tempo perdido nos anos Trump e reposicionar o país na liderança da diplomacia climática global. Nesse contexto, o Brasil de Bolsonaro arrisca ser atropelado pelos EUA ao impor obstáculos para o aumento da ambição climática.

O governo Bolsonaro “passou dois anos brincando de política externa, inventando conceitos fantasmagóricos e disseminando teorias da conspiração em redes sociais, inclusive como forma de se eximir da responsabilidade sobre a devastação da Amazônia”, escreveu Guilherme Casarões (FGV) na Folha. Agora, isolado no plano internacional, o presidente brasileiro será forçado a se sentar “na mesa dos adultos” e a “segurar as bravatas” para negociar. Casarões cita um exemplo curioso, mas pertinente: em 1992, em meio a circunstâncias políticas e econômicas similares às que existem no Brasil hoje, o então presidente Fernando Collor abraçou a agenda ambiental como caminho para recolocar o Brasil como grande player internacional e recuperar o prestígio político do país e de seu próprio governo.

O problema é que, diferentemente de quase três décadas atrás, o presidente brasileiro não parece ter qualquer disposição para ir nesse caminho. Como Lourival Sant’Anna colocou no Estadão, ações midiáticas e desculpas esfarrapadas não serão suficientes para aplacar a irritação internacional com a política ambiental brasileira: falta um plano efetivo e verdadeiro para catalisar projetos de desenvolvimento sustentável na Amazônia capazes de sustentar uma política de longo prazo de redução do desmatamento.

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