Criador de galos e defensor de rinhas, Telmário Mota quer desarmar fiscais do Ibama

Senador de Roraima foi, ao lado de Ricardo Salles, alvo de notícia-crime da PF por interferir em investigação contra madeireiros; ele já foi acusado de manter rinha de galos, comprar votos em comunidade indígena e desviar verbas para combate à pandemia

Por Alceu Luís Castilho e Leonardo Fuhrmann, em De Olho nos Ruralistas

O senador Telmário Mota (Pros-RR) tem uma relação peculiar com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama). Criador de galos “combatentes” e defensor da rinha de galos, ele foi acusado pela Polícia Federal de tentar prejudicar a ação policial contra madeireiros e tenta emplacar o desarmamento dos fiscais do órgão.

Telmário foi alvo de uma notícia-crime do superintendente da Polícia Federal no Amazonas, Alexandre Saraiva, sob a acusação de tentar prejudicar a ação policial contra madeireiros. Saraiva afirma que o político age em defesa dos desmatadores que agem no Pará, fora de seu reduto político. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, também é citado pelo delegado.

Saraiva usa como provas postagens de Telmário nas redes sociais em que articula reuniões dos madeireiros com o governo estadual, Ministério da Justiça e do Meio Ambiente. Em resposta, Telmário o chamou de “xiita e covarde”. Após pedir a investigação contra ambos, Saraiva foi afastado do cargo por decisão do comando da PF.

Mota atuou outras vezes contra a fiscalização do desmatamento na Amazônia. Ele é autor de um projeto, apresentado no ano passado, para retirar as armas dos fiscais do Ibama e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Os fiscais têm seu direito ao porte de arma desde a lei de proteção à fauna, de 1967. Os agentes são alvos de diversos ataques de madeireiros e garimpeiros ilegais e latifundiários em razão de seu trabalho.

Uma proposta semelhante foi apresentada em 2013 pelo então deputado Jair Bolsonaro. Ele desistiu dois anos depois. Para os funcionários do Ibama, a proposta foi uma retaliação depois de Bolsonaro ter sido autuado por pesca ilegal na Estação Ecológia de Tamoios, em Angra dos Reis (RJ).

O senador também pediu uma investigação da Polícia Federal sobre a morte de Francisco Viana da Conceição, de 52 anos, durante uma ação do Ibama em Roraima. Ele cortava madeira quando foi baleado. Segundo o Ibama, policiais que faziam a segurança dos agentes reagiram após terem sido recebidos a tiros pelos desmatadores, que tentavam fugir da fiscalização.

POLÍTICO É DONO DE MAIS DE 300 GALOS DE BRIGA

Telmário respondeu no Supremo Tribunal Federal (STF) por crime ambiental. Ele era acusado na ação penal 932 de maus tratos contra animais e apologia ao crime. Os ministros da corte entenderam que os dois crimes já haviam prescrito e o absolveram, em 2016, da acusação de formação de quadrilha.

O interesse do parlamentar pelos animais de rinha não diminuiu depois disso. Na eleição de 2018, quando foi derrotado na disputa ao governo do Estado, ele declarou a propriedade de 305 “bicos de aves da raça combatente”, ou seja, galos de briga, avaliados em R$ 200 mil. A criação de galos foi declarada por R$ 200 mil. Mais ou menos R$ 660 por ave.

Vejam aqui o senador em vídeo no Amazonas com galos “combatentes”:

https://youtu.be/nMv-3DiqFng

Telmário é investigado atualmente pelo STF no inquérito 4852, sobre desvio de verbas para o combate à Covid-19 em Roraima. Seu nome apareceu nas investigações após  o ministro Luís Roberto Barroso determinar que o senador Chico Rodrigues (DEM-RR) não poderia ter contato com outros investigados, como o colega do Pros. Durante a operação sobre o caso, a Polícia Federal apreendeu R$ 18 mil na cueca de Rodrigues, além de R$ 10 mil e US$ 6 mil em um cofre na casa do político.

TELMÁRIO FOI ACUSADO DE TENTAR COMPRAR VOTOS INDÍGENAS 

Além dos galos, o senador Telmário declarou em 2018 uma fazenda chamada Caçada Real, em Boa Vista, de 1.200 hectares, no valor de R$ 3,3 milhões.

A gleba, segundo processo que tramitou no STF, é uma área que pertencia ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e foi loteado pelo governo de Roraima. Em 2014, a Corte encerrou o processo sem o julgamento do mérito.

O senador publicou nas redes sociais uma foto de sua esposa, a ex-deputada estadual Suzete Macedo de Oliveira, com melancias colhidas na propriedade. Suzete chegou a ser presa em 2016, sob a acusação de participar de um esquema de corrupção no estado, em 2003, ao lado do governador na época, Neudo Campos (PP).

A relação de Telmário e a esposa com os Campos rendeu outras acusações posteriores. No inquérito 4035, no Supremo, Telmário e a colega Ângela Portela eram acusados de distribuir dinheiro na comunidade indígena do Contão, em Pacaraima (RR), para favorecer a governadora eleita do estado, Suely Campos, esposa de Neudo. Os parlamentares foram absolvidos por falta de provas.

O parlamentar respondeu no Supremo ao inquérito 4296, em que era acusado de agressão contra uma jovem de 19 anos, com a qual teria um relacionamento. O tribunal declinou da competência para o caso, que foi transferido para a Vara de Violência Doméstica de Boa Vista.

Imagem principal (Reprodução/YouTube): senador Telmário Mota e um galo “combatente”

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