Antes da canetada que cortou verbas do meio ambiente no orçamento, Bolsonaro e Salles fizeram uma live na 5a feira (22/4), horas após o discurso na Cúpula Climática, na qual o presidente repetiu parte de sua cantilena, dessa vez para seu público mais fiel nas redes sociais. Para Bolsonaro, a pressão política da comunidade internacional “não [se] justifica” e as críticas enfrentadas pelo governo na agenda ambiental visam prejudicar a competitividade do agronegócio brasileiro no exterior. “Está na cara que no fundo eu acho que uma questão econômica está em jogo”, disse o presidente.
Já Salles reafirmou que novos compromissos e metas climáticas dependerão da oferta de recursos externos. “Se não vier ajuda, nós vamos fazer com o nosso orçamento, que o presidente já reforçou que vai dobrar”, disse Salles, poucas horas antes de Bolsonaro confirmar uma nova redução das verbas para o meio ambiente no orçamento de 2021. Folha e Valor citaram as falas da live.
Sobre o discurso de Bolsonaro na cúpula, o Valor fez um apanhado das críticas de parlamentares e especialistas apontando inconsistências entre as ações do governo federal e as promessas feitas pelo presidente. Em editorial, O Globo afirmou que, a despeito das sinalizações de Bolsonaro no encontro, a imagem do Brasil nunca esteve tão desmoralizada no exterior. “Na prática, é um discurso que já traz pronta a desculpa para quando [as promessas] não forem cumpridas: faltou dinheiro. A marca do governo Bolsonaro na questão ambiental continua sendo o retrocesso”.
Um dos alvos mais recentes da política antiambiental de Bolsonaro e Salles não se conteve ao criticar a fala do presidente da Cúpula Climática. O delegado da Polícia Federal, Alexandre Saraiva, que deixou o comando da corporação no Amazonas depois de encaminhar uma notícia-crime contra Salles no STF, usou o Twitter para ironizar o compromisso do governo de acabar com o desmatamento ilegal. “Até 2030 o desmatamento vai acabar… por falta de floresta”, postou Saraiva. O Estadão repercutiu o tuíte.
“Os diplomatas lhe puseram na boca palavras cheias de boas intenções voltadas para o meio ambiente. Falou até em aquecimento global, algo que ele e sua horda de negacionistas não acreditam”, escreveu Luiz Fernando Viana na Época. “Em resumo, Bolsonaro mentiu. Para o mundo. Cara de pau planetária”. No G1, Otávio Guedes disse que Bolsonaro apresentou uma versão de si mesmo muito distinta daquela que ele tanto gosta de mostrar. “O discurso do presidente Bolsonaro na Cúpula do Clima surpreendeu pela memória seletiva: ele exaltou os avanços ambientais obtidos durante a redemocratização – em especial nos governos do PT – e, pasmem, esqueceu o projeto da ditadura militar para a Amazônia, que até hoje ele e seu governo defendem”.