Confira em síntese algumas perspectivas das manifestações ocorridas no último sábado
Por Igor Felippe, da Página do MST
Neste sábado (29) ocorreram manifestações pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro, unindo centenas de milhares de pessoas que foram às ruas, de máscaras, no maior protesto contra o governo durante a pandemia. Confira abaixo alguns apontamentos de repercussão sobre a pluralidade, engajamento e perspectivas políticas da conjuntura.
1. As manifestações de 29 de maio foram expressivas, tanto em relação à capilaridade nacional quanto ao número de participantes. Foram registrados atos em todos os estados e DF, em 213 cidades, mobilizando mais de 420 mil pessoas. Os protestos em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília foram mais expressivos, dando ressonância nacional. Belo Horizonte, Salvador, Recife e Porto Alegre tiveram atos importantes também.
2. A jornada teve uma repercussão grande nas redes sociais, isolando o campo bolsonarista e anulando a direita liberal. No Twitter, a ação de rede em torno da hashtag #29MForaBolsonaro envolveu 202 mil participantes, com quase 2 milhões de postagens.
3. As manifestações tiveram participação de um contingente de classe média, da juventude estudantil e da militância das organizações da classe trabalhadora. Foi baixa a participação da base da classe trabalhadora e dos camponeses nas capitais, mas teve presença importante nas cidades menores. Em diversos estados, especialmente no Nordeste e mesmo no Centro-oeste, teve uma composição social com maior participação popular.
4. Apesar da dificuldade de promover atos de rua evitando aglomerações, houve um esforço de manter a organização, resguardar algum distanciamento e garantir que todos os manifestantes estivessem de máscara. Tanto as aglomerações (especialmente em SP, RJ e BH) como também o esforço com as medidas sanitárias tiveram destaque na mídia empresarial, o que diferenciou dos protestos bolsonaristas.
5. A jornada terá um impacto importante na conjuntura e marcará um novo período da luta política. Assim como foi a crise de Manaus e as carreatas (janeiro), a eleição para a presidência da Câmara (fevereiro), a volta do Lula à cena com direitos políticos (março), a reforma ministerial (abril) e a CPI da Covid no Senado (maio).
6. O desgaste de Bolsonaro aumenta. A retomada dos direitos políticos do Lula já tinha acendido o sinal amarelo para o governo. Depois, a CPI da Covid passou a impor um desgaste permanente em relação às políticas para a pandemia. Agora, com as manifestações de rua, Bolsonaro é afrontado nas ruas, já que a palavra de ordem que unificou a jornada foi Fora Bolsonaro. Paralelamente, tem diminuído a intensidade da atuação das milícias bolsonaristas nas redes sociais. Tanto que não conseguiram manipular o significado dos atos.
7. Diante disso, a fatura do centrão para o governo deve ficar mais cara. Serão cobradas medidas que possam recompor o apoio nas eleições, com o aumento de gastos públicos. O ministro da Economia Paulo Guedes, de acordo com nota de jornal, estaria convencido da necessidade de abrir o cofre. Valdemar da Costa Neto, presidente do PL e conselheiro de Bolsonaro, propôs retomar o auxílio emergencial de 600 reais.
8. A direita não-bolsonarista perde ainda mais espaço. Já estava espremida eleitoralmente entre Lula e Bolsonaro. Agora, vê aumentar o protagonismo da esquerda na oposição ao governo na sociedade. Até agora a Globo tentava desempenhar esse papel. A direita não-bolsonarista terá que aumentar a carga contra Bolsonaro, inclusive colocando o impeachment. Caso contrário, terá dificuldades para suplantar o presidente e viabilizar a 3ª via contra Lula.
9. A esquerda dá uma demonstração de força com os atos. Volta às ruas e expressa na luta de massa as insatisfações crescentes contra o governo. A campanha Fora Bolsonaro ganha referência, especialmente com a capilaridade da jornada, e terá que discutir a realização de novos atos ou formas efetivas de impor desgaste ao governo. No entanto, manter os atos de rua como ações extraordinárias, em meio a uma pandemia, contribui para evitar a banalização da exposição das pessoas dos bolsonaristas.
10. A presença marcante da juventude nos atos, com grande peso por todo o país, demonstra a oportunidade e coloca o desafio de aproveitar esse engajamento político, que muitas vezes brota nas redes sociais. Fomentar a organização mais orgânica da juventude, para além de atos esporádicos, é fundamental para construir uma força social e um novo ciclo de lutas.
*Editado por Fernanda Alcântara
—
Fotos de Giorgia Prates (Curitiba), Ricardo Stuckert (Brasília), Mídia Ninja (São Paulo), Luiz Damasceno (Porto Alegre) e Pedro Rocha (Rio) – Divulgação