Não pode ser rotina essa ruína! Por Chico Alencar

Kathlen de Oliveira Romeu, 24 anos, grávida de 4 meses, grata a Deus “por gerar o amor da minha vida” – como postou no seu Instagram, há uma semana. Kathlen, formada em desenho de interiores, desenho humano lindo, crescimento interior, querida na loja em que trabalhava, em Ipanema, amada por seus parentes e amigo/as.

Kathlen cheia de sonhos, “uma mulher que merece viver e amar como outra qualquer do planeta”. Não deixaram, impediram!!!

Kathlen, solidária, levava alimento para sua tia, no complexo de favelas do Lins, Zona Norte do Rio. Sayonara, a avó, que a acompanhava, desalentada, fala da barbárie: “a rua estava tranquila, de repente começou muito tiro. Ela caiu, eu me machuquei, me joguei em cima dela para proteger. Perdi minha neta e meu bisneto!”. Em plena luz do dia, no meio da tarde azul, aquele pedaço vivo da cidade se tingiu de sangue, lágrimas e desespero. Em instantes, a alegria de Kathlen foi ceifada, a morte mostrou sua carranca.

Não está certo, não é normal, não é aceitáveil, não é decente! Da polícia e de seus superiores, servidores públicos, mantidos pela sociedade, é preciso cobrar responsabilidades. Essas “operações” em comunidades pobres, além de ilegais na pandemia, são desastrosas e sempre vitimam quem não está nos “confrontos” dos tiros a êsmo. Desprezo total pelas vidas dos anônimos, dos pobres, dos mais vulneráveis, na sua maioria negros e negras.

À imensa dor e ao absurdo catastrófico da eliminação de Kathlen, a autoridade policial responde com uma nota fria: “testemunhas serão ouvidas e diligências realizadas para esclarecer os fatos e identificar de onde partiu o tiro que atingiu a vítima”.

Os fatos são óbvios: na ação policial não houve inteligência, cuidado, preparo. O tiro que tirou a vida de Kathlen e de seu bebê partiu da insanidade governamental, estadual e federal, que autoriza o uso brutal da força, a “reação” sem critério, o “e daí?” para as mortes. E nada faz para controlar o maldito contrabando de armas e munições, além de estimular o seu uso indiscriminado.

A vida de Kathlen, de sua criança e todas as vidas importam! É nosso dever repudiar, clamar e reclamar. Basta!

Fonte: https://www.facebook.com/chicoalencar/photos/a.220261591409433/3766870053415218/?type=3

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