Governo Bolsonaro publica foto de homem armado para parabenizar o Dia do Agricultor

Postagem foi feita pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência em suas redes sociais nesta manhã, mas foi apagada à tarde, após críticas. G1 procurou o Palácio do Planalto, que ainda não se pronunciou.

Por G1

A Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República publicou uma foto de um homem armado em sua conta no Twitter, na manhã desta quarta-feira (28), para fazer uma homenagem ao Dia do Agricultor.

O tuíte foi apagado à tarde, após críticas. A postagem também foi excluída da página do Instagram da Secom.

Um dos usuários do Twitter apontou a origem da fotografia, retirada do banco de imagens iStock, que é pago. Neste site, a foto tem a seguinte a descrição: “Silhueta de caçador carregando espingarda no ombro e observando”.

G1 procurou o Palácio do Planalto, que não se pronunciou até a última atualização dessa reportagem.

Ministério da Agricultura disse que não vai se manifestar.

O G1 também consultou organizações que ligadas ao Agro. A Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) disse que não vai se pronunciar. E a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) não respondeu até a última atualização da reportagem.

A Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) afirmou que “repudia totalmente essa postagem feita nas redes oficiais do governo e, enquanto representante dos agricultores e agricultoras familiares, expressa a sua indignação”.

O Sindicato Nacional dos Peritos Federais Agrários (SindPFA) afirmou que a manifestação “é uma demonstração indigna de quem tomou o lado do escravagista, do jagunço, do capitão do mato, do grileiro e do desmatador, que ignora a realidade de um país que ainda não se reconciliou com seu passado, marcado pela destinação da terra a endinheirados, marginalizando a população”.

“É, sobretudo, um escárnio para com as muitas famílias e vítimas da violência no campo, como as do massacre de Eldorado dos Carajás, que completou 25 anos recentemente”, disse a entidade, em nota.

Política armamentista

Desde que chegou ao poder, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem assinado decretos para ampliar o acesso a armas. Ele já falou, em várias ocasiões, sobre o desejo de ver toda a população armada.

Em 2019, Bolsonaro sancionou uma lei que ampliou a posse de arma para toda a extensão de uma propriedade rural. Até então, a posse era restrita apenas à sede de uma fazenda, por exemplo. A legislação é válida para qualquer propriedade, independentemente do tamanho da área.

Já em fevereiro de 2020, o governo federal editou um “pacote de mudanças” em decretos de 2019, flexibilizando os limites para compra e estoque de armas e cartuchos.

Uma dessas alterações elevou de quatro para seis o número máximo de armas de uso permitido para pessoas com Certificado de Registro de Arma de Fogo.

Um outro decreto deu permissão para que atiradores e caçadores registrados comprem até 60 e 30 armas, respectivamente, sem necessidade de autorização expressa do Exército.

Em apenas três anos, o Brasil dobrou o número de armas nas mãos de civis, segundo um Anuário Brasileiro de Segurança Pública divulgado no dia 15 deste mês.

Em 2017, segundo a Polícia Federal, o Sistema Nacional de Armas (Sinarm) contabilizava 637.972 registros de armas ativos. Ao final de 2020, o número subiu para 1.279.491 – um aumento de mais de 100%.

Além disso, o número de pessoas físicas que pediram registros para atuarem como caçadores, atiradores desportivos e colecionadores aumentou 43,3% em um ano: de 200,1 mil pessoas, em 2019, para 286,9 mil, em 2020.

Imagem: Governo Bolsonaro publica foto de homem armado para parabenizar o dia do agricultor — Foto: Reprodução/Twitter

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