Enquanto cientistas, governos e empresas em todo o mundo reconhecem o alerta dado pelo IPCC nesta semana sobre a gravidade da crise climática, personalidades políticas do entorno do presidente Jair Bolsonaro continuam dando espaço e fôlego para teorias conspiratórias e negacionistas sobre a mudança do clima.
Rubens Valente destacou no UOL um evento organizado por uma entidade criada pelo general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército, com a participação de dois notórios negacionistas das mudanças climáticas para debater questões relativas à Amazônia. O evento, programado para o final de agosto, contará também com a participação de membros do governo federal, como os ministros Tarcísio Freitas e Tereza Cristina, além do vice-presidente Hamilton Mourão.
“Isso é uma maluquice, não tem outro jeito de definir”, criticou Claudio Angelo, do Observatório do Clima. Ele também lembrou que o próprio relatório do IPCC, apresentado nesta semana, foi aprovado por diplomatas brasileiros durante a sessão final de revisão do texto, finalizada na semana passada. “De um lado, o governo brasileiro [está] sancionando o alarme mais poderoso que a ciência já fez sobre o papel dos seres humanos no clima e, de outro, você tem o vice-presidente da República se juntando a um evento de teóricos da conspiração que dizem que o aquecimento global não existe”.
Falando em negacionistas, o professor Thiago Amparo (FGV) foi sintético e certeiro em sua resposta a certo articulista que recorreu a uma “retórica negacionista 2.0” para contestar as conclusões do IPCC e defender que certas atividades intensivas em carbono são importantes para nos tornar “menos vulneráveis” à natureza. “A perversidade do negacionismo recai em jurar que se está dizendo o contrário do que de fato se diz. Nesta novilíngua, negacionismo veste o sapatênis do antialarmismo”, escreveu na Folha. “[O articulista em questão] o faz subscrevendo uma das formas mais nefárias de negacionismo: mascara-o, vendendo soluções que não são [apenas in-]capazes de mitigar e adaptar as sociedades à crise climática como possuem o efeito adverso. Implode-se a Amazônia para salvá-la, eis o argumento”.
Em tempo: Enquanto o governo Bolsonaro bate palma para negacionistas, os cientistas do país lamentam a possibilidade cada vez maior de desativação do supercomputador Tupã, um dos recursos tecnológicos mais importantes para pesquisas climáticas e monitoramento meteorológico no Brasil. O motivo é a falta de verba do INPE, responsável pelo equipamento, que já programou o desligamento do Tupã para o final deste ano. O UOL Tab ouviu pesquisadores, que ressaltaram o prejuízo científico que o país pode ter sem esse supercomputador, inclusive em questões rotineiras, como a previsão do tempo.