Protestos reuniram siglas da esquerda e do centro, como PT, PSDB, PDT e Solidariedade; em Recife, mulher foi atropelada
Por Caroline Oliveira*, no Brasil de Fato / MST
Cerca de 300 manifestações no Brasil e em outros 17 países contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ocorreram neste sábado (2/10). Atos foram registrados em todas as capitais do Brasil e em outros países como Alemanha, França, Portugal e Inglaterra, de acordo com os organizadores da Campanha “Fora, Bolsonaro”. O impeachment de Bolsonaro, fome, desemprego e vacinação contra a covid-19 foram os principais temas levantados pelos manifestantes.
Ampla participação
Algumas lideranças políticas, como Gleisi Hoffmann, presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), e Guilherme Boulos (PSOL), coordenador da Frente Povo Sem Medo, acreditam que foram as manifestações mais amplas deste ano.
Os atos estão “sendo bastante amplos”, afirmou Boulos em entrevista à TVT, completando: “Nós vamos ter uma representação política hoje no ato da Avenida Paulista [em São Paulo] mais significativa do que qualquer outro ato, e espero que isso sinalize um compromisso entre os partidos para que se tenha uma unidade em torno do pedido de impeachment, da defesa da democracia e contra Bolsonaro”.
Na manifestação de São Paulo, partidos como o PDT e o PSDB se juntaram aos partidos de esquerda, centrais sindicais e movimentos populares. Figuras políticas também até então distantes dos protestos convocados por setores da esquerda também compareceram ao ato, como Ciro Gomes (PDT) e Paulinho da Força (Solidariedade).
Para Boulos, de fato, “existe muita diferença” em termos de programa político, mas não tem “a menor dúvida” de que “diante do risco democrático que a gente vive no país, diante da tragédia que representa o Bolsonaro, as nossas diferenças são menores que o objetivo comum de derrotá-lo”. O coordenador da Frente Povo Sem Medo afirmou que espera que a união seja um “primeiro passo” para uma frente política pelo impeachment e em defesa da democracia.
“Espero que esses partidos mantenham a consequência em torno desse projeto e não apenas estejam no ato, mas também se coloquem com as suas bancadas no Congresso nacional na defesa do impeachment”, afirmou Boulos.
Na mesma linha, Hoffmann afirmou à TVT que “partidos que não estavam na convocação estão nesse e isso com certeza vai dando força. A unidade é um processo de construção, e essa unidade vai se refletir obviamente nas ruas, mas também na pressão política”. A petista também disse que espera que no 15 de novembro, quando haverá novas manifestações, também tenha essa união. “Espero que possamos ampliá-la ainda mais.”
“Na fila do osso”
Um dos temas mais levantados pelo manifestante foi a fome, relembrada nos cartazes. Nesta semana, a capa do jornal Extra chocou a população brasileira ao trazer a cena de um homem buscando por pedaços de carne e ossos dentro de um caminhão cheio de carcaças, rejeitadas por açougues.
A imagem representa muito bem o Brasil, que, com o desemprego e a alta no preço dos alimentos, nos combustíveis e no gás de cozinha, coloca a população à beira do abismo da fome.
Desde o início da pandemia até agosto, o preço dos alimentos aumentou 15% no país, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A taxa é quase o triplo da inflação geral registrada no mesmo período, 5,2%.
Para Boulos, está “evidente” para todos os brasileiros que “não dá para esperar” as eleições presidenciais de 2022 para derrotar Bolsonaro. O “Brasil não aguenta mais 500 dias de Bolsonaro. A fila do osso aumentando, 19 milhões de pessoas com fome, vamos chegar a 600 mil vítimas por uma pandemia”.
Para o coordenador do Povo Sem Medo, a manifestação também é “essencial” para dar uma resposta ao “movimento golpista que Bolsonaro organizou no dia 7 de setembro”. “É preciso uma resposta das ruas e está sendo dada no dia 2.”
Nas palavras de José Carlos Dias, ex-ministro da Justiça do governo de Fernando Henrique Cardoso, o Brasil está “de luto”, mas a população está partindo para a “luta”. Dias acredita que este “é um momento de esperança em que nós queremos afastar esse delinquente que está presidindo o país e o afundando para o abismo”.
Ao observar as manifestações, Dias afirma que se trata também de um movimento de esperança. “Eu, aos meus 82 anos, e todas essas pessoas estamos vivendo a esperança. É um dia de esperança. É a sociedade civil que tem que cobrar do Congresso o caminho para nos libertar dessa situação.”
Vacina no braço
Uma outra pauta recorrente entre os manifestantes foi a imunização da população brasileira contra a covid-19. Cartazes com cobranças para acelerar a vacinação e relembrando todas as mortes evitáveis que ocorreram devido ao negacionismo do governo federal estiveram presentes nas mãos da população que foi aos protestos.
Nesse sentido, também houve uma defesa contumaz da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid. Para João Pedro Stedile, coordenador do MST, a ampla representação das manifestações de hoje também vai conferir um apoio ao relatório que será apresentado pelo senador Renan Calheiros (MSB-AL) com as conclusões e encaminhamentos da comissão.
“Já que o Lira é aliado do Bolsonaro em troca de não sei quais favores, pelo menos a CPI pode desatar alguns procedimentos jurídicos que pelo menos interdite o presidente por todos os crimes que ele já cometeu”, afirmou Stedile à TVT.
Atropelamento no Recife
Até o momento, foi registrada uma ocorrência em Recife (PE), onde uma jovem foi atropelada e arrastada por um carro por 100 metros. Segundo o manifestante Leonardo França, a jovem estava na comissão da organização que tentava estabelecer o diálogo entre os condutores e os manifestantes, quando um homem furou o bloqueio e avançou sobre as pessoas.
“Ele arrastou, todo mundo pediu para parar, mas ele não parou. Ele correu mais de 100 metros com a menina pendurada no carro. Ele freou, a menina caiu e ele passou por cima”, afirma. A vítima ficou ferida e foi encaminhada para o Real Hospital Português.
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Manifestação em Brasília (DF) marchou até o Congresso Nacional. Foto: Scarlett Rocha