Corretor diz que negociação em terras de retireiros no MT é “amigável” e “legal”

Áudio obtido por De Olho nos Ruralistas mostra homem oferecendo uma fazenda “topíssima” às margens do Rio Araguaia, em Luciara; “Paulocha”, que é citado como conhecedor da fazenda, afirma que reportagem é “sensacionalista”; veja a nota dele na íntegra

Por Mariana Franco Ramos, em De Olho nos Ruralistas

O negociador Valmo Rodrigues Matos, conhecido em Luciara (MT), região de conflitos às margens do Rio Araguaia, como Paulocha, procurou De Olho nos Ruralistas para contestar a publicação da reportagem “Fazendeiros negociam terras públicas ocupadas por retireiros no Mato Grosso“. Ele é citado em um áudio no qual um intermediário oferece duas fazendas a um possível interessado. A operação é considerada ilegal, uma vez que propriedades fluviais são de domínio da União.

Segundo Paulocha, que conforme os moradores atua como uma espécie de corretor, sempre a favor de grileiros e fazendeiros de outros estados, a matéria é “sensacionalista e sem respaldo fático e jurídico”. O homem questiona o fato de o observatório não ter divulgado o áudio na íntegra e o “objeto principal da conversa” não ser o território de propriedade de Jair Fiorucci, sócio de Hélio Feitosa no Piraru Group.

O autointitulado trabalhador rural argumenta ainda que não se pode presumir o que exatamente seria o “enrosco” mencionado pelo interlocutor, posto que no Direito existem “vários problemas que podem ser considerados como enrosco”. Entre eles estariam hipoteca bancária, pendência de partilha judicial entre herdeiros e multa no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Apesar da contestação, Valmo Rodrigues Matos não afirma qual seria o real “enrosco” do terreno. O local, entre o Cerrado e a Amazônia, é ocupado há muitos anos por retireiros, povos que vivem do pastoreio do gado nos chamados retiros em áreas coletivas.

Ainda de acordo com Paulocha, o interlocutor ressalta ao interceptor que a área da matrícula em nome de Fiorucci teria “invasores” e que, por isso, seria preciso negociar com eles. A indicação para a negociação, prossegue, é “amigável”, no sentido de que o receptor “poderia comprar a posse de quem quisesse vender”. E ele completa: “Comprar posse de forma amigável no Brasil não é crime e nem ato ilegal!”

Paulocha também afirma que é mencionado somente como conhecedor da área, o que não significa que aceitou a proposta de mostrá-la ao possível interessado. “Ainda, em nenhum momento o sr. Paulocha participa da conversa, e muito menos consta qualquer afirmação dele dizendo se vai ou não aceitar o serviço de corretagem referente à área de terra da matrícula em nome do sr. Jair Fiorucci!”

A nota acrescenta que não consta na Delegacia de Policial de Luciara nenhum boletim de ocorrência confirmando que Paulocha entrou nas posses citadas para mostrá-las a terceiros. “Não se tem testemunho de posseiros das áreas citadas que afirmem que o sr. Paulocha tentou negociar as áreas com eles”. O negociador nega ser proprietário de terras e diz que a única área referente à matrícula em nome de Fiorucci que ele frequenta é a posse de sua ex-esposa e as posses de suas filhas.

VEJA A ÍNTEGRA DO PEDIDO DE RETRATAÇÃO ENCAMINHADO AO OBSERVATÓRIO

(De Olho nos Ruralistas mantém a grafia original, enviada por Paulocha.)

Eu, VALMO RODRIGUES MATOS, vulgou “PAULOCHA”, brasileiro, casado, trabalhador rural, CPF178.257.501-44, residente em Rua do Comercio, n. 725, centro, S.F.A/MT, venho por meio desse, requerer a retratação da matéria acima por ser tratar de uma matéria sensacionalistas sem respaldo fático e jurídico, como veremos a seguir.

DO DIREITO DE RESPOSTA

O pedido de resposta ou retificação deve ser atendido no prazo de 24 horas, pelo jornal (Lei n°5250, de 09.02.1967, art.31, I). Se não o for, “o ofendido poderá reclamar judicialmente a sua publicação” (art.32).

DA RETRATAÇÃO/ DA RESPOSTA

Em virtude de notícia veiculada nessa quinta-feira (06.10), pelo site “De Olho nos Ruralistas” o Sr. VALMO RODRIGUES MATOS vulgou “PAULOCHA”, vem esclarecer algumas informações infundadas, inventadas e incorretas que foram divulgadas sobre sua pessoa, e solicita que esta nota seja divulgada na íntegra para sociedade e imprensa.

PRIMEIRO, o Sr. Valmo Rodrigues Matos citado na reportagem não participa do áudio divulgado e a ele não é correto fazer julgamento de ações que não aconteceram.

SEGUNDO o jornal não divulgou o áudio na integra, manipulando as informações da forma mais maldosa possível.

Como se nota na integra do áudio pauta da matéria referente a esse pedido de resposta/desagravo/retratação, o objeto principal da conversa, assunto que se inicia a conversa é uma suposta “terra com enrosco”, não sendo o assunto principal da conversa a suposta área da matrícula em nome do Sr. Jair Fiorucci.

Explica, o Áudio fala de duas terras.

O INTERLOCUTOR (quem gravou o áudio) inicia a conversa dizendo que falou supostamente com o Sr. PAULOCHA para mostrar uma terra “com enrosco” ao RECEPTOR (quem recebe o áudio) e essa terra que se inicia o áudio NÃO É área de terra referente a matrícula em nome do Sr. Jair Fiorucci!

Além disso, não se pode presumir qual seria esse o tipo de enrosco referente a primeira terra que o INTERLOCUTOR disse que o Sr. PAULOCHA iria mostrar ao RECEPTOR, posto que no direito existem ser vários problemas que podem ser considerados como “enrosco”, como por exemplo, hipoteca bancária (devendo o comprador acerta com o Banco), pendencia de partilha judicial entre herdeiros (devendo o comprador aguardar a sentença para passar a terra para o seu nome), multa no IBAMA (devendo o comprador regular a situação no IBAMA). Assim, não sabe qual pendência seria essa, posto que não é divulgado no áudio qual seria a primeira terra e nem qual seria pendência dela!

No final da conversa o INTERLOCUTOR após relatar sobre a primeira terra acima, INDICA a área da matrícula em nome do Sr. Jair Fiorucci para o RECEPTOR (pessoa que recebeu o áudio).

Importa ressaltar que, o INTERLOCUTOR ressalta ao RECEPTOR que área da matrícula em nome do Sr. Jair Fiorucci teria invasores, e que precisaria negociar as posses com eles (os posseiros), porque impossível de retirar os invasores de lá (posseiros), dando a entender que reconhece os direitos de posse desses (posseiros).

A indicação para a negociação das posses na área da matrícula em nome Sr. Jair Fiorucci com os posseiros é AMIGÁVEL, no sentido de o RECEPTOR poderia comprar a posse de quem quisesse vender, da mesma forma que o INTERLOCUTOR dá a indicação da compra da matrícula da terra do Sr. Jair Fiorucci. Comprar posse de forma amigável no Brasil não é crime e nem ato ilegal!

Nessa segunda parte do áudio o INTERLOCUTOR apenas cita que o Sr. PAULOCHA conhece a área, não afirmando que ele teria aceitado ou não qualquer proposta de mostrar a área.

Ainda, no áudio que o Jornal expôs seu conteúdo incompleto NÃO TEM a informação de que o RECEPTOR teria aceitado a sugestão do INTERLOCUTOR de comprar a matrícula do Sr. Jair Fiorucci e fazer para propostas de compra das posses dos posseiros na área!

Ainda, no áudio que o Jornal expôs seu conteúdo incompleto NÃO TEM a informação de que O Sr. PAULOCHA teria aceitado mostrar as áreas da matrícula da terra em nome do Sr. Jair Fiorucci ao RECEPTOR.

Assim, em nenhum momento do áudio que o jornal cita, o RECEPTOR do áudio afirmar se aceita ou não a sugestão do INTERLOCUTOR tanto de compra das posses nas áreas da matrícula da terra em nome do Sr. Jair Fiorucci, quanto da compra da própria matricula!

Em momento algum o RECEPTOR do áudio afirmar se vai ou não convidar o PAULOCHA para mostrar a área da matrícula da terra em nome do Sr. Jair Fiorucci a ele!

Ainda, em nenhum momento o Sr. PAULOCHA participa da conversa, e muito menos consta qualquer afirmação dele dizendo se vai ou não aceitar o serviço de corretagem referente a área de terra da matrícula em nome do Sr. Jair Fiorucci!

No áudio o sujeito do INTERLOCUTOR apenas INDICA o Sr. PAULOCHA (Valmo Rodrigues Matos) para a corretagem da área de terra da matrícula em nome do Sr. Jair Fiorucci com os posseiros, isso não significa que o Sr. PAULOCHA iria aceitar ou não proposta, como insinua a matéria.

Além disso, não consta na Delegacia de Policial local de Luciara/MT nenhum BO que afirme que o Sr. PAULOCHA (Valmo Rodrigues Matos) teria entrado nas posses citadas para mostrá-las para terceiros (posses nas áreas de terra da matrícula em nome do Sr. Jair Fiorucci)!

Ainda, não se tem testemunho de posseiros das áreas citadas que afirmem que o Sr. PAULOCHA tentou negociar as áreas com eles (áreas dentro da matrícula em nome do Sr. Jair Fiorucci)!

Assim, o Sr. PAULOCHA nunca entrou nas áreas referentes a matrícula em nome do Sr. Jair Fiorucci com possíveis compradores e nunca tentou negociá-las com os posseiros locais conforme indica a matéria jornalística mal elaborada e sensacionalista!

O único local que o Sr. PAULOCHA frequenta na área referente a matrícula em nome do Sr. Jair Fiorucci é a posse de sua ex-esposa e as posses de suas filhas.

O Sr. PAULOCHA não é proprietário de terras como perniciosamente afirma a reportagem.

Precipitadamente, o jornal optou por publicar reportagem sensacionalista, incompleta, na qual não é ouvida a parte contrária. Ora, as acusações expostas não possuem respaldo jurídico e fático.

Segue o áudio na integra:

PRIMEIRA PARTE DO ÁUDIO DE WHATSAPP CITADO PELO JORNAL (NÃO DIVULGADO POR COMPLETO PELO JORNAL)

– ‘’O Paulocha conhece tudo lá Carlin, qualquer situação que tiver naquela região ele conhece tudo. É um cara é… pronto pra tudo, pra tudo quanto é tipo de situação, ele vai te receber, vai te mostrar lá, e é um caboco arrumado o Palocha, cabei de falar com ele aqui, ele vai te receber…

hoje ele vai ta o dia toda la na Luciara, cê chegando lá hoje, cê já pode ligar pra ele dai, vai te esperar, e vai te mostrar a propriedade lá, a fazenda é uma fazenda muito bonita, tem esses enrosco ai, mas é coisa boa.”

SEGUNDA PARTE DO ÁUDIO DE WHATSAPP CITADO PELO JORNAL (NÃO DIVULGADO POR COMPLETO PELO JORNAL)

“OUTRA PROPRIEDADE muito bacana pra você fazer uma proposta Carlin, é a fazenda do Valdin Fiurucha, do Fiurucha, essa fazenda ele é um paulista, Fiurucha, é uma fazenda muito boa, ela tem mais de 7 mil hectares, cê vai passar na frente dela, na porta dela pra ir nessa fazenda ai que nós tamo tratando, é, EU VOU ATÉ FALAR pro Paulocha pra te mostrar essa fazenda do Fiurucha lá, essa fazenda ta invadida, tem um monte de posseiro em cima dela, é tudo posseirinho da cidade mesmo, gente que quer ganhar uma grana pra poder sair fora, é…

É um negócio que da pra gente fazer um um um comprar essa fazenda do Fiurucha no jeito, barata, ele pega seus imóveis, entendeu, AI VAI TER QUE JOGAR UMA GRANA NA MÃO DOS POSSEIROS ALI PRA TIRAR ELES ENTENDEU, PORQUE PRA TIRAR ELES NA TORA VAI SER COMPLICADO, porque é tudo gente ali, inclusive até a dona da pousada tem um rancho nesse negócio, nessa fazenda do Fiurucha lá, tendeu, então assim, é um negócio muito interessante, DE REPENTE TE INTERESSA, muito interessante mesmo entendeu, até porque o Fiorucha la em São Paulo, ele nunca mais voltou nessa fazenda, ela ta toda invadida, ele não tem dinheiro pra mexer o negócio pra tirar esse pessoal de lá, e é uma fazenda topissima, topissima, milhor ainda do que essa que você vai ver.’’

(Destaquei).

São Félix do Araguaia/MT, 08/10/2021.

Valmo Rodrigues Matos

Requerente/peticionante.

Foto principal (Prefeitura/Arquivo): Vista aérea de Luciara, no Vale do Araguaia

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