As pedras (e as pedradas) no caminho do Brasil na COP26

ClimaInfo

O governo brasileiro se propôs uma missão impossível para Glasgow: contra todas as evidências factuais dos últimos três anos, convencer investidores e líderes internacionais de que o país está engajado na luta contra a mudança do clima e na proteção do meio ambiente. Para isso, a delegação brasileira aposta em um pacote que recicla promessas antigas e novas sinalizações de compromissos climáticos.

Na imprensa brasileira, os ministros Carlos França (relações exteriores) e Joaquim Pereira Leite (meio ambiente) aproveitaram o final de semana antes da COP para vender o “novo Brasil” ao público. “Atuaremos durante as negociações sempre de forma construtiva e proativa, a fim de garantir mais ambição climática de todos rumo à neutralidade de emissões até 2050”, escreveu o chefe do MMA no Estadão. Já o chanceler do Itamaraty observou na Folha que “o Brasil vai a Glasgow empenhado no sucesso da COP26”.

Entretanto, nem mesmo o próprio presidente da República, que optou por trocar a COP por um passeio turístico na Itália, parece muito confiante no sucesso dessa estratégia. “É aquela história, você sabe que o presidente Bolsonaro sofre uma série de críticas, então ele vai chegar num lugar [em] que todo mundo vai jogar pedra nele, né?”, resmungou o vice-presidente Hamilton Mourão, justificando a ausência de seu colega de Planalto na Conferência de Glasgow. EstadãoFolha e g1 destacaram a lamentação do general, que ficou de fora da delegação brasileira na COP26.

O ceticismo de Bolsonaro e Mourão não é descabido. Mesmo com a campanha pesada do governo brasileiro para reverter o desprestígio internacional do país no exterior, a situação é delicada. O descalabro da política antiambiental, o descontrole do desmatamento e das queimadas, o estrangulamento orçamentário dos órgãos de proteção ambiental e as inúmeras polêmicas estúpidas com líderes e governos do exterior continuam sendo pedras no caminho da política externa de Bolsonaro. Tudo isso está explícito para o resto do mundo. Como Manuela Andreoni pontuou no NY Times, negociadores e observadores internacionais já estão se acostumando a ver o Brasil não mais como uma liderança global na agenda climática, mas sim como um país que tropeça de constrangimento em constrangimento, com um governo incapaz de mudar sua essência destrutiva.

Em tempo: De Glasgow, o coordenador-executivo do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima, Oswaldo dos Santos Lucon, pediu demissão do cargo nesta terça-feira (2). Ele ocupava a função desde maio de 2019. g1 e Folha trazem mais detalhes.

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