Indígenas Mbya Guarani denunciam incêndio criminoso na aldeia Pindó Mirim, no Rio Grande do Sul

O incêndio ocorreu na madrugada do domingo, 14/11; o fogo destruiu por completo a casa de reza e dois veículos, os indígenas contiveram o incêndio que destruía a casa onde guardam os alimentos

No Cimi

Os indígenas Mbya Guarani denunciam incêndio criminoso, ocorrido na madrugada de sábado para domingo, 14 de novembro, na aldeia Pindó Mirim, na Terra Indígena Itapuã, localizada no município de Viamão, Rio Grande do Sul.

Os invasores atearam fogo na casa de reza, em dois veículos e em uma casa onde os indígenas guardam os alimentos e mantimentos. Devido ao vento, as labaredas se alastraram rapidamente, destruindo por completo a casa de reza e os veículos. Os indígenas contiveram o incêndio que destruía a casa de alimentos, evitando uma tragédia ainda maior.

Os Mbya Guarani relataram que não viram quem ateou fogo, “todos ouviram os latidos dos cachorros, mas, naquele momento, havia muito vento o que inibiu as pessoas de saírem de dentro de suas casas. Na sequência, o fogo foi intenso”. O corpo de bombeiros foi acionado, mas, quando chegou ao local, o fogo já havia sido controlado e apagado.

Segundo as lideranças, o crime ocorreu entre uma e duas horas da manhã. Quando as famílias perceberam, a casa de reza e os veículos já haviam incendiado, não sendo possível conter as chamas. As autoridades foram acionadas sobre o ocorrido e também sobre as ameaças que os Mbya Guarani vêm enfrentando, mas não foram adotadas medidas para coibir a ação dos invasores dentro da terra indígena.

As famílias Mbya Guarani estão amedrontadas. “Nesta madrugada, as constantes ameaças verbais que temos enfrentado se concretizaram através do crime de incêndio à casa de alimentos, a casa de reza e aos veículos da comunidade”, destacam as lideranças.

Localizada em uma pequena área, a Terra Indígena Itapuã tem pouco mais de 20 hectares, cedida pelo Estado do Rio Grande do Sul para o usufruto indígena. De acordo com as informações, aquela parcela de terra é de propriedade do Estado, apesar disso, os Mbya Guarani sofrem pressões externas constantes de posseiros, madeireiros e de um pretenso proprietário.

“A Terra Indígena Itapuã está com o procedimento de demarcação em curso desde o ano de 2009. O relatório circunstanciado da área foi concluído e encontra-se na Funai em Brasília, faltando a sua publicação no Diário Oficial da União. Pelos estudos se concluiu que a terra é de ocupação originária e tradicional do Povo Guarani”, explica Roberto Liebgott, coordenador do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Sul.

Há a necessidade de que medidas sejam adotadas pela Fundação Nacional do Índio (Funai), para finalizar o processo de demarcação do território Mbya Guarani. Por parte do Estado, há que se averiguar a possível participação de policiais militares nesse processo de invasão e ameaças, pois sempre acompanham um pretenso proprietário da área. Ao Ministério Público Federal (MPF), os indígenas cobram que investigue o incêndio criminoso contra o patrimônio e contra as vidas indígenas, já que, ao se propagar as chamas, o ocorrido poderia ter implicações muito mais graves, caso as pessoas estivessem dentro da casa de reza ou da casa de mantimentos.

A casa de mantimentos em questão, na semana anterior, havia recebido doações de sementes crioulas dos camponeses e camponesas do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). Com o incêndio criminoso, as sementes também foram comprometidas, colocando em risco a sobrevivência alimentar dos Mbya Guarani para o próximo período. “Exigimos que os responsáveis sejam devidamente punidos e que, com isso, cessem as ameaças, as invasões e as violências”, reforça o cacique Valdecir Moreira.

Agradecidos a Ńahnderu pelo fato de ninguém ter se ferido, após o ocorrido, os Mbya Guarani se reuniram para sistematizarem os acontecimentos e planejar a construção da uma nova casa de reza. Eles pedem o apoio das entidades e de pessoas amigas.

A comunidade ainda aguarda a visita das autoridades indigenistas com quem pretendem dialogar sobre as providências a serem tomadas em relação ao crime, bem como sobre a necessidade de cercarem a área e instalar portões nas entradas da aldeia, já que todas ficam na beira da estrada, descreve Roberto, que acompanha os Mbya Guarani.

Incêndio criminoso na aldeia Pindó Mirim, Terra Indígena Itapuã, em Viamão, no Rio Grande do Sul. Foto: Povo Mbya Guarani

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