O aperto econômico experimentado pelos brasileiros nos últimos tempos não está sendo sentido pelo agronegócio, que tem aproveitado o dólar nas alturas e a retomada da demanda por produtos primários no exterior para exportar Deus-e-o-Mundo para Deus-e-o-Mundo. O problema é que a bonança do agro tem sido facilitada pelo desmonte da política ambiental promovido pelo governo Bolsonaro, de tal maneira que o setor está colecionando lucros e socializando mais e mais custos ambientais com todos os brasileiros, especialmente aqueles mais pobres e vulneráveis.
O The Intercept trouxe dois artigos que exploram a questão. Primeiro, João Peres abordou como o mercado financeiro tem se aproveitado de lacunas regulatórias e da flexibilização da política ambiental para “bombar” títulos e ações de grandes atores do agronegócio brasileiro. Como resultado, essas empresas estão mais capitalizadas, se utilizando desse dinheiro para especular com terras griladas e intensificar a devastação ambiental nas áreas de fronteira agrícola na Amazônia e no Cerrado.
Com um recorte parecido, Andrew Fishman trouxe no portal norte-americano como a crescente financeirização do agronegócio brasileiro está facilitando o investimento estrangeiro no setor. Mesmo instituições e fundos de investimentos de grande porte, como BlackRock, Vanguard e JPMorgan, que se dizem defensores de financiamento verde, seguem atrelados a empresas associadas com ilegalidades ambientais no Brasil, como os grandes frigoríficos.
Por falar em frigoríficos, Isabel Harari destacou na Repórter Brasil como as cadeias gigantes de fast-food, como McDonald’s, Burger King e Subway, não conseguem garantir que a carne de seus sanduíches não tenha origem de fazendas com desmatamento ilegal na Amazônia e no Pantanal.
Em tempo: Para a turma que ainda acha que essa economia predatória é o caminho para o progresso econômico do Brasil, Ricardo Abramovay tem uma péssima notícia. A crise climática e a escassez de recursos naturais estão forçando um redesenho de processos econômicos mundo afora, o que se reflete em exigências cada vez mais rígidas quanto ao impacto ambiental das empresas e seus produtos e serviços. “No centro desta transformação, está a necessidade cada vez maior de que os processos produtivos sejam rigorosamente rastreados”, escreveu Abramovay no UOL Ecoa. “Protestar contra estes custos é reivindicar o direito de promover o crescimento econômico às custas da destruição da natureza. Não é de se estranhar que este direito esteja sendo reivindicado por um governo de extrema direita, apoiado naquilo que o empresariado brasileiro tem de mais atrasado”.