Balsas usadas para garimpo ilegal no AM são construídas na orla de Manaus, a 3 km de instalação da Marinha

Trabalhadores afirmam que construções acontecem há cerca de um ano nas margens do igarapé no Educandos. Na semana passada, operação da Polícia Federal destruiu 131 embarcações usadas por garimpeiros.

Por Karla Mendes, g1 AM

Balsas usadas para garimpo ilegal no Amazonas são construídas por operários de um estaleiro na orla de Manaus. No local, é possível ver algumas embarcações prontas, com estruturas específicas para fixar as dragas.

Na semana passada, uma operação da Polícia Federal destruiu 131 balsas usadas por garimpeiros ilegais no rio Madeira, no interior do Amazonas, e prendeu três pessoas. A exploração ilegal de ouro ficou em evidência após centenas de balsas e dragas se reunirem em um único ponto do rio.

Em Manaus, a construção de balsas para essa finalidade foi constatada nas margens do igarapé do Educandos, na Zona Sul. A atividade acontece a cerca de três quilômetros de uma unidade do Capitania Fluvial da Amazônia Ocidental (CFAOC), um dos órgãos da Marinha do Brasil.

g1 solicitou posicionamento da Marinha sobre a situação, e aguarda resposta. Compete ao órgão as fiscalizações nos rios. Ainda não se sabe se eles poderiam atuar para combater a construção das balsas, ou se têm conhecimento do estaleiro vizinho.

A reportagem também busca contato com a Polícia Federal e Ministério Público Federal sobre a situação.

Trabalhadores que atuam nas proximidades, que preferiram não se identificar, informaram ao g1 que, geralmente, depois de prontas, essas balsas seguem para municípios do interior, como Japurá, Humaitá e Autazes.

“Essas balsas [em construção no local] já foram encomendadas por um cliente, porque são muito caras e precisam de dinheiro para começar. Há mais de um ano que elas estão sendo construídas”, disse um deles.

No caso das balsas flagradas pela reportagem, ainda é necessário instalar os equipamentos para extração do ouro, como motor, por exemplo, para se caracterizarem como dragas.

Os estaleiros usados para essas construções não possuem identificação, como placas ou números que os caracterizem como empresas formais. Os trabalhadores da área afirmam que os galpões são alugados.

As balsas construídas são de dois andares. Um deles seria os quartos onde que os garimpeiros ficam, e, embaixo, os motores da draga. Embarcações semelhantes foram destruídas na operação da PF no rio Madeira.

“Balsas como essas têm vários cômodos porque são mais de 20 horas de trabalho por dia, por isso são de dois andares e têm quartos. No garimpo a lei é outra”, declarou um trabalhador.

Nas redes sociais também existem anúncios de vendas e financiamento de dragas de garimpo por até R$ 500 mil. Nos anúncios, as parcelas do financiamento chegam a R$ 4 mil.

Financiamento de dragas é feito pelas redes sociais. — Foto: Reprodução

Exploração ilegal em massa no rio Madeira

Nas últimas semanas, centenas de balsas e dragas atracaram em um único ponto do Rio Madeira, para exploração em massa de ouro. Segundo o Greenpeace, havia pelo menos 300 balsas na região, sem licença ambiental para mineração.

Os garimpeiros se dispersam do local na sexta-feira (26), mas alguns continuaram operando de forma ilegal. A atividade de exploração de ouro em rios da Amazônia é ilegal, segundo o Instituto de Proteção Ambiental da Amazônia (Ipaam).

O Ministério Público de Contas acionou o Tribunal de Contas da União (TCU) para investigar uma possível omissão de órgãos fiscalizadores no combate ao garimpo ilegal no rio Madeira, no interior do Amazonas. No requerimento, o Ministério Público pede que a apuração seja voltada, especialmente, para a atuação da Polícia Federal e Marinha do Brasil.

Quatro prefeitos de cidades da calha do rio Madeira se reuniram com senadores da bancada do Amazonas, em Brasília, nesta quarta-feira (1º), para pedir a regulamentação da atividade de garimpo na região. Os senadores esperam a formulação de uma proposta para dar seguimento ao processo.

Balsas usadas por garimpeiros são construídas na orla de Manaus. Foto: Karla Mendes /g1 AM

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