“Sob ataque contínuo”: revista internacional publica artigo sobre desmonte da ciência no Brasil

Texto integra a edição de janeiro da The Lancet; uma das mais antigas e importantes publicações sobre saúde do mundo

Por Nara Lacerda, no Brasil de Fato

caos vivido pela ciência brasileira nos anos de governo Bolsonaro é tema de um artigo publicado na edição da histórica revista de saúde The Lancet. Um dos mais importantes do mundo, o periódico científico abriu espaço para texto de autoria dos pesquisadores Bernardo Galvão-Castro, Renato Sérgio Balão Cordeiro e Samuel Goldenberg.

O artigo cita cortes orçamentários milionários, ataques à autonomia das universidades e o negacionismo  presente no governo como parte da uma política de desmonte. 

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“Um recente corte de US$ 110 milhões no orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, além da retenção de US$ 490 milhões do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, não apenas representa um enorme impedimento para a realização de pesquisas em universidades e institutos de pesquisa, mas também compromete o desenvolvimento científico futuro de um país”, ressaltam os autores.

Eles pontuam ainda que o cenário tem causado “uma fuga de cérebros entre cientistas e desmoralização e descontentamento”.

Intimidações e constrangimentos

No artigo publicado pela The Lancet, Galvão-Castro, Cordeiro e Goldenberg também citam os riscos de “sanções indiretas” a pesquisas que contradizem posições defendidas pelo governo. 

O texto traz como exemplo um decreto de Jair Bolsonaro que, em novembro passado, revogou a concessão da Ordem do Mérito Científico concedido à médica Adele Schwartz Benzaken e ao médico Marcus Vinicius Guimarães de Lacerda.

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Benzaken é reconhecida por seu trabalho no combate a doenças transmissíveis em prol da saúde da população LGBTQIA+. Ela coordenou os trabalhos do Departamento de DST/HIV/Aids e Hepatites Virais (DIHV) do Ministério da Saúde, que produziu uma cartilha de educação sexual destinada à população trans. O material foi alvo de ataques durante a campanha eleitoral de Jair Bolsonaro, que cancelou a publicação ainda no início do mandato.

O infectologista Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda tem um importante papel em pesquisas para prevenir e tratar doenças como malária HIV/Aids etuberculose. Ele atraiu a fúria bolsonarista ao conduzir um estudo sobre o uso da cloroquina para tratamento da covid, que indicou riscos para os pacientes. 

Após a revogação da honraria, 200 cientistas que receberam o prêmio anteriormente publicaram uma carta pública condenando a decisão do governo. O artigo conclui que os constantes cortes nos investimentos não trazem consequências limitadas ao setor da pesquisa, mas também  afetam a educação,  a saúde pública, o meio ambiente e programas culturais.

“Esperamos que o Brasil não continue a se pautar pelo negacionismo e evite a degradação da ciência”, concluem os autores.

Clique aqui para ler na íntegra em inglês
 

Edição: Vinícius Segalla

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Eduardo Zanatta.

Adele Schwartz Benzaken, diretora do Instituto Leônidas & Maria Deane da Fiocruz Amazônia, e Marcus Vinicius Guimarães Lacerda, da Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado, ligado ao governo do estado do Amazonas, tiveram suas condecorações canceladas por Bolsonaro. Colagem: RBA

 

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