Roubo de madeira: 530 km de estradas ilegais foram abertas na Bacia do Xingu em 2021

Vias, chamadas de ramais, são fruto da explosão de desmatamento em áreas protegidas, mostra boletim Sirad-X, da Rede Xingu+

por Sandra Silva, em ISA

A crescente destruição das florestas brasileiras se aprofundou ainda mais em 2021. Em comparação ao ano anterior, o desmatamento cresceu 14% na bacia do Xingu, região localizada nos estados Pará e Mato Grosso. Os dados são do Sirad X, o sistema de monitoramento da Rede Xingu+ que detalha o desmatamento em toda a bacia.

Acesse aqui o boletim.

A soma do ano revelou o maior desmatamento desde 2018, data de início do monitoramento da Rede Xingu+. As áreas protegidas do Xingu sofreram com invasões, roubo de madeira, degradação florestal e grilagem de terras ao longo de todo o ano, registrando aumento de 30% no corte raso da floresta.

O aumento da degradação florestal das áreas protegidas do Xingu é monitorado por meio do acompanhamento de picadas ou estradas que são abertas no meio da mata para a extração ilegal de madeira. No último ano foram abertos ao menos 533 km de estradas ilegais que cortam os territórios protegidos. Tais rotas fortalecem ainda mais as atividades ilegais de degradação e refletem os trajetos feitos pelos criminosos que ameaçam a vida dos povos indígenas e ribeirinhos. “A Reserva Extrativista (Resex) Riozinho do Anfrísio é uma das Unidades de Conservação (UC) que mais sofre com a ação ilegal de madeireiros que fazem uso de ramais ilegais para escoar madeira roubada”, disse Thaise Rodrigues, analista de geoprocessamento do Observatório de Olho no Xingu.

O segundo semestre de 2021 foi marcado pela abertura de 14 km de novas estradas ilegais que se concentram ao norte da Resex e conectam com estradas antigas que atravessam a Flona do Trairão e terminam nas BRs 230 e 163. O roubo de madeira também tem assolado o Território Indígena do Xingu (TIX) que teve 26 km de estradas abertas só nos últimos quatro meses de 2021 – reflexo das atividades ilegais dentro do território.

No ritmo acelerado de destruição no Xingu, a Terra Indígena (TI) Apyterewa, lar do povo Parakanã, registrou em 2021 o maior índice de desmatamento desde 2018. Foram mais de oito mil hectares desmatados, 28% a mais que em 2020. A TI também sofreu com a abertura de 22 km de ramais ilegais que, além de serem rotas de destruição dentro do próprio território, ameaçam terras vizinhas como a Trincheira Bacajá, lar dos Xikrin.

Os municípios de São Félix do Xingu (PA) e Altamira (PA) finalizaram o ano na liderança do ranking e juntos somam 59% de todo desmatamento na bacia do Xingu em 2021.

O ritmo do desmatamento diminuiu nos meses de novembro e dezembro do ano passado, mas a queda é consequência do alto nível de chuvas que, tradicionalmente, inibe a ação dos criminosos da região no final do ano. Apesar da trégua momentânea, o contexto geral assusta e mostra que a degradação ambiental virou regra nos últimos quatro anos.

O ano de 2021 encerrou na mesma crescente de desmatamento que marcou anos anteriores. Os altos índices de degradação ambiental são resultados da postura adotada pelo governo de Jair Bolsonaro desde os discursos de campanha até as políticas de desmonte dos órgãos de fiscalização ambiental.

Sobrevoo pelo estado do Pará em 2019, registra garimpos ilegais, extrativismo de madeira ilegal, queimadas desastrosas, campos gigantescos para gado e etc. Com essas imagens podemos provar que o avanço da destruição da Amazônia apenas aumenta | Fabio Nascimento – Greenpeace

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