“Nunca fomos fiscalizar”, reconhece prefeito de cidade campeã em autorizações de garimpo na Amazônia

ClimaInfo

A desfaçatez com que o prefeito de Itaituba, no Pará – apelidada de “Cidade Pepita” -, se refere à emissão de mais de 500 licenças que concedeu para o garimpo de ouro em áreas de conservação federais no município denota o quanto a mineração na Amazônia está imbricada numa teia de permissividade e ilegalidade, para dizer o mínimo.

A cidade, situada na bacia do rio Tapajós, é campeã de autorizações de garimpo de ouro no Brasil, como mostra reportagem d´O Globo. Em um momento no qual o mercúrio deve ter subido à sua cabeça, o prefeito Valmir Climaco, que também é garimpeiro, admitiu que nunca fiscalizou as operações realizadas com a autorização dele por meio da emissão de licenças ilegais.

O prefeito está no segundo mandato consecutivo e foi eleito com o apoio da “categoria”. Na semana passada, quando foi deflagrada a operação “Caribe Amazônico”, chefiada pela Polícia Federal e que resultou na destruição de maquinário pesado e caro utilizado no garimpo ilegal, o prefeito voou para Brasília para se reunir com parlamentares e com o ministro chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, para solicitar a suspensão da operação. Climaco disse ao repórter Eduardo Gonçalves que só não ligou direto para o presidente Jair Bolsonaro porque este estava na Rússia.

A operação da PF foi realizada depois da comprovação do garimpo ser responsável pelas poluição e turbidez das águas de Alter do Chão, região turística conhecida como o “Caribe Amazônico”. A ação dos policiais foi acompanhada por Sonia Bridi e Paulo Zero e apresentada no Fantástico de domingo (20/2).

Miriam Leitão, n´O Globo, apontou a conivência do governo federal e o estímulo aos crimes do garimpo. Estas conexões também estão no Congresso Nacional, como revela a Repórter Brasil. A matéria revela investigação da Polícia Federal sobre suspeitas de que a cooperativa de garimpeiros Cooperouri, ligada ao pré-candidato ao governo do Pará, Zequinha Marinho (PSC), estaria legalizando, por meio de fraude, metal ilegal extraído de Terras Indígenas Kayapó para vender ao mercado internacional. A PF identificou os principais compradores e as conexões do lobista no governo federal.

Em tempo: O clima de “libera geral” sinalizado pelo atual dirigente do Brasil para o desmatamento ilegal na Amazônia está sendo fielmente incorporado por alguns estados da região. Levantamento do Imazon realizado a pedido d´O Globo mostrou que a destruição florestal está avançando progressivamente em Unidades de Conservação estaduais desde 2018, atingindo uma perda de 1.766 km² entre 2019 e 2021. Mais uma vez o Pará aparece envolvido na destruição. A reportagem aponta que a Área de Proteção Ambiental (APA) estadual mais devastada é a Triunfo do Xingu, que fica nos municípios de Altamira e São Félix do Xingu. “Dos 16,7 mil km² originais, 1.068 km² foram desmatados nos últimos três anos, 40% deles no ano passado”, diz o texto.

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