Além de discutir o protagonismo e a importância do papel da mulher na sociedade Memortumré-Canela, três grandes eixos estiveram em discussão: Território, Saúde e Educação
POR JESICA CARVALHO, DO CIMI REGIONAL MARANHÃO
O Conselho Indigenista Missionário – Regional Maranhão, em aliança com o povo Memortumré-Canela, participou do I Encontro das Mulheres Memortumré-Canela, que trouxe uma reflexão sobre o protagonismo das mulheres, os espaços de atuação na comunidade e fora do território, e as trajetórias de lutas e embates políticos. Durante os três dias do evento, que ocorreu de 24 a 26 março, na Aldeia Escalvado, Terra Indígena Kanela, elas puderam fortalecer-se na luta pela defesa dos seus direitos, principalmente em relação aos retrocessos que vem sendo vivenciados pelos povos indígenas.
Além de discutir o protagonismo e a importância do papel da mulher na sociedade Memortumré-Canela, três grandes eixos estiveram em discussão: Território, Saúde e Educação. Suely Japje Canela destacou a importância da realização deste encontro e reforçou a necessidade de continuação dessa união das mulheres. “Estaremos esperando pelo retorno de vocês, agradeço a todos e a todas”.
Com rituais e cantorias, o primeiro dia de evento contou com a apresentação das mulheres e o início das discussões sobre o tema proposto. “Esse é o primeiro passo da gente, se fortalecer, saber sobre os direitos que nos pertencem, sobre o território, sobre a saúde, sobre a educação. Para que a gente tenha esse reconhecimento, esse espaço ao lado dos guerreiros. Sabendo que estamos ali para somar e não para desunir”, destaca Ruthe Memortumré-Canela.
No segundo dia, o encontro seguiu o diálogo sobre a realidade vivenciada pelas mulheres no território. Elas trouxeram denúncias sobre as várias situações de falta de assistência por parte da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), não apenas com relação à saúde da mulher, mas também de todo o povo Memortumré-Canela, como a falta de transporte para o deslocamento nas situações de emergência e a falta de medicamentos no Posto de Saúde da aldeia. Além disso, relataram sobre as invasões no território, que avançam e causam insegurança para mulheres coletoras e caçadoras.
“Aqui não tem escola. Eu parei de estudar, tentei me transferir para Fernando Falcão, mas não consigo ir todos os dias, pois não tenho recursos, então tive que voltar e desistir. É preciso lutar para construir a escola”, relata Claudilucia Memortumré-Canela.
O evento, que é o primeiro realizado pelas mulheres, foi considerado o primeiro passo para o empoderamento das mulheres Memortumré-Canela, se tornando um marco na história construída por elas. Carregadas de emoções, elas transbordavam determinação e compromisso com a luta por um território livre, por melhorias nas políticas públicas e com a busca de conhecimentos sobre a saúde da mulher.
“O encontro das mulheres Memortumré-Canela só reafirma o compromisso e fortalece a luta por território livre, garantia dos direitos, manutenção de políticas públicas de saúde e educação específicas e diferenciadas, além de diversos pontos discutidos”, afirmou Madalena Borges, da coordenação colegiada do Cimi-MA.
–
I Encontro das Mulheres Memortumré-Canela. Foto: Ricardo Memortumré-Canela