O mico em forma de NDC apresentado pelo Brasil na semana passada segue causando polêmica. Além de não aumentar a ambição dos cortes de emissões de gases de efeito estufa prometidos pelo país sob o Acordo de Paris, o documento ignorou sem a menor cerimônia compromissos recentes assumidos pelo governo brasileiro na Conferência do Clima de Glasgow, a COP26, como a meta de zerar o desmatamento e de reduzir as emissões de metano em pelo menos 30% até 2030.
O Observatório do Clima sintetizou os escorregões do Brasil em sua NDC. A despeito do aumento nominal do percentual de corte de emissões até o final desta década, de 43% para 50%, esse montante ainda representa um aumento em termos absolutos do total de emissões previstas para o Brasil até 2030 em comparação com o que tinha sido prometido pelo país em sua primeira NDC, em 2015 – 73 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (tCO2e) a mais, para ser exato. “É como ter uma dívida no cartão de crédito e pagar só uma parte da fatura. Continua sendo um retrocesso”, comparou Marcio Astrini, secretário-executivo do OC.
“O descontrole da política ambiental faz com que, a cada ano, a gente se distancie mais das metas firmadas nos acordos internacionais e das soluções propostas”, lamentou Antonio Oviedo, do Instituto Socioambiental (ISA), a’O Globo. “Hoje, o desmatamento na Amazônia é 237% maior que a meta prevista na política nacional sobre mudança do clima, de 2009”. Estadão, Folha, Nexo e ((o)) eco também repercutiram a pedalada climática do Brasil no Acordo de Paris.
Em tempo: O Valor trouxe dados de uma pesquisa inédita sobre a opinião da população brasileira sobre a mudança do clima, conduzida por pesquisadores da FGV. De acordo com a análise, a maioria dos brasileiros segue o consenso científico e acredita que a crise climática é um fenômeno real causado pela ação do homem, e que esse problema já está afetando a vida das pessoas. Por outro lado, existe um desconhecimento substancial por uma parte expressiva dos brasileiros sobre a ciência climática em si, o que indica uma dificuldade para entender a associação entre o aumento das emissões de gases de efeito estufa e efeitos climáticos decorrentes desse processo, como a intensificação de eventos climáticos extremos.