Para mapear a resistência negra em cursinhos populares

Você pode participar de pesquisa nacional para conhecer estas iniciativas. Eles foram decisivos na luta por cotas raciais no Brasil. Mas também são “laboratórios aglutinadores” de lutas populares e do resgate de histórias e identidade ancestrais

Por Ana Claudia Moreira Cardoso*, em Outras Palavras

O Nepac (Núcleo de Pesquisa em Participação, Movimentos Sociais e Ação Coletiva da Unicamp) e a Ação Educativa, com o apoio do Instituto Ibirapitanga, estão mapeando em todo o Brasil os cursinhos pré-vestibulares com recorte racial.

O objeto do projeto “Memória negra: cursinhos populares e o associativismo negro brasileiro” é realizar um amplo levantamento dos cursinhos pré-vestibulares do país como espaços de associativismo negro e articulação política, considerando essas experiências como centrais na luta e efetivação das políticas de ação afirmativa e garantia de direitos. Queremos ampliar o conhecimento sobre essas iniciativas no Brasil e construir uma rápida caracterização dos mesmos sobre sua história, público, redes e parcerias e formas de atuação.

Procurando lidar com a profunda disparidade educacional, os movimentos sociais nos anos 1990 criaram, em várias partes do Brasil, os chamados cursinhos populares, voltados para a preparação para a entrada na Universidade e, em geral, destinados para a população de baixa renda, em especial para negros e negras. Historicamente duas iniciativas foram precursoras: a Organização Steve Biko, em Salvador, e o Núcleo de Consciência Negra da USP. Duas iniciativas se destacaram como articuladoras e impulsionadoras de cursinhos populares pelo país: o Cursinho para Negros e Carentes (PVNC), de 1994, em Petrópolis, no Rio de Janeiro, e a Educafro, fundada em 1993 no Rio de Janeiro e, em 1997, em São Paulo. Hoje em dia não se sabe ao certo quantos cursinhos populares voltados para negros e negras existem no Brasil, a experiência se espraiou e congrega atividades políticas diversas, funcionando como uma espécie de laboratório e aglutinador de múltiplas militâncias. O que sabemos é que esses cursinhos têm sido não apenas a porta de entrada para a universidade, mas também para o próprio reconhecimento dos jovens negros de sua história e identidade, oferecendo canais de conexão com a política, no sentido amplo do termo. Os cursinhos populares, junto a outros coletivos, têm se afirmado como espaços de socialização política da juventude negra tecendo as teias do ativismo. Sabe-se também que os cursinhos populares foram importantes espaços de debate e formulação das políticas de cotas raciais no Brasil.

Queremos registrar as várias experiências no país de cursinhos pré-vestibulares, mesmo aquelas que já não estejam mais funcionando. Estamos em busca de experiências que explicitamente têm ou tiveram um recorte voltado para negros/negras, seja por meio do seu público ou por sua proposta pedagógica-política. Explicitamente não quer dizer exclusivamente. Interessa aqui também levantar cursinhos que eventualmente interseccionem as questões raciais com outros recortes sociais, tais como para população LGBTQIA+ ou pobres/carentes/periféricos/favelados. Para fazer parte deste mapeamento, basta preencher este breve formulário que entraremos em contato.

*É doutora pela USP e Paris 8 e pós-doutora pelo Centre de Recherche Sociologique et Politique de Paris – CRESPPA. Pesquisadora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e do GT Trabalho Digital da Rede de Estudos e Monitoramento da Reforma Trabalhista (REMIR).

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