Lista de audiência sobre aborto tem juíza que impediu menina de aborto legal, Bia Kicis e conselheira de Trump

Governo Bolsonaro pretende usar audiência pública como pretexto para dificultar o acesso aos direitos das mulheres

Por Andréia Sadi, no g1

O Ministério da Saúde vai promover nesta terça-feira (28) uma audiência pública que visa, na prática, dificultar o acesso ao aborto legal. O blog pediu ao MS a lista de participantes já que entidades de direitos da mulher procuraram o blog na segunda (27) para informar que não conseguiram acesso à audiência, tendo credenciamento vetado.

Na lista de presença enviada pelo Ministério da Saúde ao blog aparecem nomes como Joana Ribeiro, a juíza que impediu o aborto legal de uma menina estuprada em Santa Catarina, a deputada bolsonarista Bia Kicis, ex-presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, e até uma conselheira de Donald Trump, Valerie Huber – todas militantes ideológicas contra o aborto.

Joana Ribeiro manteve uma criança de 11 anos, vítima de estupro, em um abrigo e negou o aborto legal. Em audiência, ela pediu para a menina manter a gestação. “Você suportaria ficar mais um pouquinho?”, disse. O blog procurou a juíza que, por meio de seus advogados, disse que não vai poder comparecer à audiência.

Bia Kicis já afirmou, em suas redes sociais, que “aborto é sobre interromper a vida do bebê. Não é questão de saúde ou de vida. É questão de morte”.

blog questionou o perfil da lista à assessoria do MS, que disse que a “iniciativa original” era ouvir metade a metade – mas que “acha” que pode ter havido um boicote.

As entidades de direito às mulheres e especialistas dizem que não há o que discutir sobre a lei e que a audiência pública é uma armadilha do governo para retirar direitos de mulheres. O aborto é previsto em lei em apenas três situações e todas específicas, para proteger a mulher de violência e risco de vida: em caso de estupro, quando a gestação envolve riscos de morte à mulher e em caso de anencefalia do feto.

O objetivo do governo de Jair Bolsonaro (PL) é usar como pretexto essa audiência pública para, na prática, usar a cartilha em que o MS diz que todo aborto é ilegal e dificultar o acesso aos direitos das mulheres. Por meio das propostas, o governo deve direcionar ações pelo Ministério para este fim.

Veja a lista de participantes da audiência pública que o MS enviou ao blog:

  • Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia – Febrasgo Prof. Dr. Osmar Ribeiro Colas
  • Conselho Federal de Medicina – CFM Allan Cotrin do Nascimento e Gieselle Crosara Lettieri
  • Academia Nacional de Medicina
  • Sociedade Brasileira para progresso da ciência – Dra. Lia Zanotta Machado
  • Fiocruz – Nísia Trindade Lima Indicação: Dr. José Paulo P. Júnior – IFF/FIOCRUZ
  • Dra Lenise Garcia
  • Dra Luciana Lopes
  • Conselho Federal de Enfermagem
  • Ivone Abolnik;
  • Valerie Huber – Conselheira do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump
  • Margareth Martins Portella – Conselheira do Cremerj
  • Dr. Ubatan Loureiro Júnior
  • MMDHF – Representante Angela Gandra – Secretária Nacional da Família / Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos
  • Conselho Federal de Psicologia – CFP Indicação: Alessandra Santos de Almeida
  • Ana Muñoz dos Reis – Secretária Nacional de Políticas para as Mulheres / Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos
  • Frente Parlamentar Mista Contra o Aborto e em Defesa da Vida – Coordenação: Dep. Chris Tonietto
  • Senador Eduardo Girão
  • Deputada Bia Kicis
  • Deputada Janaina Paschoal
  • DPU – Defensor Público Geral Federal – Daniel de Macedo Alves Pereira Indicação DPU: Dra. Daniela Corrêa Jacques Brauner – Coordenadora do Grupo de Trabalho Mulheres
  • CNMP – Conselho Nacional do Ministério Público – Presidente: Antônio Augusto Brandão de Aras
  • Ives Grandra Filho – Ministro TST
  • Defensor público Danilo de Almeida Martins
  • Juiza Joana Ribeiro – titular da comarca de Tijucas
  • CONDEGE – Conselho Nacional das Defensoras e Defensores Públicos Gerais – Nalida Coelho Monte

Juíza Joana Ribeiro Zimmer, que impediu menina estuprada de fazer aborto legal, está na lista da audiência — Foto: Solon Soares/Agência ALESC

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