por Ângelo Oliveira*
Em uma perspectiva dicionarizada, orgulho pode ser entendido como “sentimento de prazer, de grande satisfação com o próprio valor, com a própria honra”. Nesse sentido, orgulho tem a ver com a autoestima, com o valor que atribuímos a nós. E qual a relevância da autoestima na vida de um indivíduo?
Ora, para sermos sujeitos atuantes no mundo, uma condição necessária é entendermos o nosso lugar, a nossa posição e a influência que exercemos sobre as coisas. E mais que isso, a consciência de que somos suficientemente potentes para produzirmos movimento. E como sermos sujeitos de ação se não vemos em nós a força para provocar impulsos, mudanças?
A autoestima está intimamente relacionada ao desejo e, consequentemente, ao que fazemos diante do desejado. Assim, alguém atingido em sua autoestima fica neutralizado em sua possibilidade de intervenção, pois uma força que não é sabida se torna combustível para a inércia. Eis a razão pela qual nosso orgulho é atacado!
Ao longo da existência LGBTQIA+, um conjunto de construções simbólicas apontam para a apropriação de sentimentos como: incapacidade, impotência, desvio e marginalização. E como ter orgulho se a presença da homossexualidade é socialmente atrelada ao erro, à transgressão e ao pecado?
Fomos descobrindo – em meio a dor, a segregação e ao abandono – que a possibilidade de ressignificarmos nossa existência está na construção coletiva de uma nova narrativa. É nas palavras torpes proferidas a nós que encontramos o “recipiente” para preenchermos de novos sentidos os significados elaborados com a intenção de nos violentar. E podemos dar à luz a novas formas de ser e compreender termos como “viado”, “sapatão”, “trava”, entre outros. Nessa direção, expressões cortantes e depreciativas passam a ser sinônimo de energia, garra, inteligência, resistência e resiliência. O ódio deles nos provocou a vivência de uma unidade amorosa em meio a diversidade que nos compõe.
Por essa razão, orgulho para nós não é sinônimo de soberba. Orgulho significa a possibilidade de nos conectarmos com nossas forças, de olharmos para o espelho com outras lentes, diferentes daquelas que nos foram dadas.
É o orgulho que desfaz a imagem suja pela mancha social a partir da qual nos víamos. O orgulho LGBTQIA+ nos resgata dos efeitos daninhos da violência homofóbica e do peso da culpa. É a partir do autoamor e da retomada da dignidade roubada que passamos a desfrutar da alegria de ser quem somos. Onde o sentimento de vergonha e fracasso atua como sustentáculo de uma estrutura opressora, injusta e desigual, nosso orgulho é revolucionário!
*Professor do IFCE / Campus Quixadá
Eitura interesse e necessária na sociedade. Uma sociedade que não respeita ninguém por ser e escolher. Agredindo com palavras e fisicamente, sem educação alguma.