Pesquisa-Ação da Fiocruz Ceará virá para registrar a luta dos assentamentos contra os agrotóxicos e a pulverização aérea
Pedro Neves Dias, Brasil de Fato
Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Ceará virão ao Rio Grande do Sul conhecer a experiência de vigilância em saúde dos Assentamentos de Nova Santa Rita, ligados ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), nesta quarta-feira (6). O pesquisador Fernando Carneiro, coordenador do projeto, explica que foram meses de levantamento de informações e cadastro, até a escolha de 10 experiências que estão sendo visitadas e acompanhadas pela Caravana.
“É uma Pesquisa-Ação nos territórios, com o intuito de conhecer e vivenciar os problemas e, ao mesmo tempo, desenvolver planos de ação junto com os movimentos populares. Uma característica desse tipo de pesquisa é a participação e a ação”, explicou Fernando.
Na região Sul do Brasil, a experiência selecionada foi a dos assentamentos da reforma agrária em Nova Santa Rita, ligados ao MST. O pesquisador ressalta o foco da experiência voltada à defesa da vida, frente ao avanço do agronegócio e da pulverização aérea dos agrotóxicos.
“Eles têm tentado um território agroecológico, livre dos agrotóxicos. São uma das maiores cooperativas produtores de arroz orgânico da América Latina, é um local muito delicado que tem sofrido os efeitos de uma guerra química, eles foram literalmente pulverizados por veneno. Nós vamos estar conhecendo melhor esta experiência junto às famílias”, ressaltou o pesquisador.
Caravana visa identificar experiências populares
Fernando ressalta também que a vinda da Caravana ao RS faz parte das atividades de um projeto de pesquisa maior, voltado para o tema da Vigilância Popular em Saúde e Ambiente de Trabalho, realizada em parceria da Fiocruz Ceará com movimentos sociais, universidades e representantes do SUS.
Este projeto, continua, visa identificar as experiências de vigilância popular em saúde, por meio de um projeto denominado “Participatório em Saúde e Ecologia dos Saberes”, e estão em caravana visitando as experiências em “Vigilância Popular em Saúde e Ambiente de Trabalho”.
Afirma que um dos objetivos, ao fim da caravana, é elaborar um Guia de Vigilância Popular em Saúde, que possa servir de subsídio para o SUS, academia e movimentos sociais, além de um Plano de Ação que possa ser um retorno imediato de todo esse trabalho.
Explica que a vigilância popular em saúde é um tipo de vigilância que tem como característica principal o protagonismo dos movimentos populares, na defesa da vida. Isso acontece por meio de monitoramento das suas próprias condições de vida, do ambiente e do seu território.
Ressalta que essas experiências não visam substituir o papel do Estado, que tem suas próprias políticas de vigilância em saúde, ambiental, sanitária e epidemiológica. Mas, reafirma, esse tipo de atividade emergiu, principalmente no contexto da pandemia, em face à omissão do governo federal de cumprir seu papel de defender a vida de populações vulnerabilizadas, como camponeses, indígenas, quilombolas e moradores de periferias, principalmente.
Edição: Katia Marko
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Imagem: Assentamentos de Nova Santa Rita são referência na produção agroecológica e foram pulverizados por veneno – MPTRS/Reprodução