A atuação do crime organizado na Amazônia não se resume à região da floresta: as conexões são muito mais vastas e levantam preocupações ainda maiores. O Instituto Igarapé divulgou ontem (20/7) uma nova análise de mais de 300 operações da Polícia Federal realizadas entre 2016 e 2021. A análise mostra os tentáculos de organizações criminosas amazônicas em 24 dos 27 estados brasileiros. As exceções são Alagoas, Pernambuco e Paraíba.
Grupos associados aos crimes ambientais na Amazônia, como extração ilegal de madeira e minérios, desmatamento e ocupação ilegal de terras, também atuam em outras frentes criminosas, como fraudes, lavagem de dinheiro, tráfico de drogas e pessoas, crimes contra o sistema financeiro e sonegação fiscal, entre outros.
Em todo o Brasil, o estudo identificou a presença dessas quadrilhas em 254 municípios, com destaque para estados de fora da Amazônia legal, como São Paulo, Paraná e Goiás. A atuação criminosa, no entanto, não se limita ao território brasileiro: na América do Sul, as operações da PF tiveram desdobramentos em Guiana Francesa, Venezuela, Suriname, Colômbia, Paraguai e Bolívia.
“Quando se observa como estas atividades se desdobram nos territórios e em outros crimes, aparecem não só múltiplos atores como múltiplos crimes”, afirmou Ilona Szabó, diretora do Igarapé, a Daniela Chiaretti no Valor. “Não tem como essas economias ilícitas operarem sem o setor privado e o setor financeiro estarem envolvidos”, afirmou Szabó.
No Estadão, José Maria Tomazela destacou a “conexão paulista” do crime organizado amazônico: a cidade de São Paulo, localizada a quase 3 mil km de distância da floresta, é o 5º município no ranking geral da cadeia de crimes relacionados à Amazônia. A capital paulista tornou-se um hub para “esquentamento” de metais preciosos de origem ilegal na Amazônia, especialmente via indústria de jóias.
A Associated Press também repercutiu os principais pontos do estudo do Instituto Igarapé.