Comunidades quilombolas elaboram plano de vigilância popular em defesa do Pantanal

O objetivo foi promover um debate ampliado sobre saúde, identificando os impactos causados pelo agronegócio e Mineração no território que ameaçam os modos de vida das comunidades, suas culturas e o meio ambiente.

Andrés Pasquis, da FASE

Na última sexta-feira (22), a comunidade quilombola do distrito de Nossa Senhora Aparecida de Chumbo, em Poconé (MT) recebeu representantes de vários quilombos da baixada pantaneira mato-grossense.  O objetivo seria promover um debate ampliado sobre saúde, identificando os impactos causados pelo agronegócio e Mineração no território, que ameaçam os modos de vida das comunidades, suas culturas e o meio ambiente.

A constatação é fruto da atuação de vigilância popular permanente que os povos quilombolas fazem tradicionalmente. Frente a essa situação, as comunidades, representadas pela Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos de Mato Grosso/Conaq MT, com o apoio da FASE, entraram em contato com Núcleo de Estudos Ambientais e Saúde do Trabalhador – Neast da Universidade Federal de Mato Grosso/UFMT para a elaboração de um estudo de qualidade da água. Foi assim que detectaram a presença de vários agrotóxicos, o que explica os adoecimentos da população cujos lares estão cercados por fazendas, cultivos de soja e mineração.

Esse estudo foi encaminhado para a Fundação Osvaldo Cruz – Fiocruz do Ceará, no contexto da iniciativa ‘Participatório em Saúde e Ecologia de Saberes’, que visa a conhecer e divulgar as experiências em VPSAT, com foco em populações vulnerabilizadas existentes em todo o país. A proposta é produzir um Guia de Vigilância Popular para atender demandas de formação do Sistema Único de Saúde – SUS, das organizações comunitárias, dos movimentos populares e das instituições de pesquisa, resultando na produção de um vídeo, um curso e um relatório multimídia.  “Essa possibilidade é muito importante, pois pode trazer novos instrumentos  de Vigilância, além de valorizar e potencializar aqueles que já existem na comunidade”, disse Márcia Montanari, professora e pesquisadora do Instituto de Saúde Coletiva da UFMT e do Neast.

Vigilância Popular

A oficina territorial de pesquisa-ação em Vigilância Popular da Saúde, Ambiente e Trabalho (VPSAT), realizada em Chumbo, foi organizada pelas comunidades através da Conaq, com o apoio da FASE, o Neast, a Fiocruz, além da participação dos serviços públicos de saúde municipal, estadual e nacional. O dia foi dividido em atividades participativas compostas por diálogos e reflexões sobre Vigilância Popular, o compartilhamento de experiências e o estudo das problemáticas citadas anteriormente. A comunidade foi também o palco de manifestações culturais típicas, como o Siriri e o Cururu. “Esta oficina, resultado de uma provocação das próprias comunidades, valoriza nossos modos de vida e tradições e também reafirma nossos direitos e necessidade de organização frente à soja e mineração que ameaçam o bem estar quilombola”, explicou Laura Ferreira da Silva, mulher quilombola e coordenadora da Conaq-MT.

Ao final foi elaborado um Plano de Ação, assumido pelas comunidades, organizações e poder público presentes, para consolidar a experiência e atuação nos territórios.
Essas informações serão adicionadas à outras recoltadas por oficinas realizadas no contexto do “Participatório” em todas as regiões do Brasil, como forma de apoiar as lutas nos outros territórios vulnerabilizados. “Esta atividade, que acontece em momentos de grandes retrocessos em políticas públicas e direitos quilombolas, é mais um resultado de processos de resistência e incidência das comunidades, além de sua atuação em rede, com o apoio de organizações como a Conaq e a FASE, para pensar em soluções conjuntas de enfrentamento a essas ameaças e fortalecimento das iniciativas existentes”, disse Fran Paula, educadora da FASE Mato Grosso.

Foto: Andrés Pasquis

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