Parques eólicos produzem energia limpa, mas impactos sociais preocupam no Nordeste

O Nordeste reúne a maior quantidade de parques eólicos do país; seminário no RN debateu criação de áreas de proteção

Rodolfo Rodrigo, Brasil de Fato

Nos últimos anos, os parques eólicos têm mostrado uma possibilidade de produzir energia limpa, renovável e ilimitada. Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o Nordeste é o maior responsável pela produção desse tipo de energia.

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São 805 parques eólicos instalados no Brasil, sendo mais de 700 no Nordeste. Hoje, o Rio Grande do Norte é o maior produtor de energia eólica do Brasil, com 345 empreendimentos.

Só nos municípios de Parazinho e João Câmara, são mais de 650 turbinas em atividade. Ao todo, o estado possui mais de 1500 turbinas em funcionamento. Por outro lado, os Parques Eólicos trouxeram problemas para quem vive à margem dos empreendimentos.

Entre os impactos dos empreendimentos estão a emissão de ruído pelas hélices das torres causando distúrbios do sono, enxaqueca e estresse, interferência nas rotas de aves, modificação da paisagem natural, alteração do modo de vida tradicional e danos aos sistemas ambientais litorâneos.

Debate

Para abordar e discutir os impactos ambientais e sociais causados na vida das comunidades que se encontram ao redor de Projetos Eólicos, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em parceria com a Cáritas, a Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN) e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Seridó, realizou o Seminário Regional sobre os impactos dos Parques Eólicos no Nordeste.

Ana Aline Morais, vice-presidente da FETARN, chamou a atenção para uma questão importante: as vidas camponesas. “Quem está numa boa condição de classe, não lembra de quem está no campo, então, temos que pensar na importância da agricultura familiar para a cidade. A FETARN não é totalmente contra a implantação dos Parques Eólicos, mas estamos pensando no futuro”, frisa.

O professor da UERN, Manoel Ciricio, apresenta os impactos causados na caatinga: “Os impactos mais pontuais com relação à própria retirada da vegetação, a perda da biodiversidade, a exposição do solo e a suscetibilidade da erosão junto à abertura de estradas e todo contexto da própria instalação de aerogeradores que, por sua vez, vai ter impactos muito fortes na questão da fauna alada como morcegos e aves migratórias que vão sofrer diretamente na perspectiva desses empreendimentos”.

Durante o seminário, as instituições elaboraram uma carta aberta direcionada aos poderes constituídos, que reivindicam o estabelecimento de áreas protegidas na região do Seridó, o fomento de unidades de conservação em nível municipal no estado Potiguar e a identificação, resguarde e promoção do Patrimônio Cultural e Natural do Semiárido Potiguar, e em especial da região do Seridó.

O assessor jurídico Daniel Lins, da Cáritas RN, complementou que: “Por um lado nessa atuação de incidência política, havendo a fiscalização maior, logicamente, a instalação de Parques Eólicos vai também respeitar os requisitos que devem ser estabelecidos favorecendo a questão do equilíbrio do ecossistema efetivamente e, na medida em que é oferecido conhecimento às pessoas, é natural também que elas se resguardem e os impactos que elas sofrem também sejam minorados a partir da capacidade, menor que seja, de negociação”.

Todas as propostas apresentadas pelo seminário têm como objetivo contribuir para reafirmar o restabelecimento de políticas públicas adequadas e a ampliação de ações para a garantia permanente da convivência digna, sustentável e plena com o Semiárido potiguar e seridoense.

Edição: Vanessa Gonzaga

Imagem: Apesar dos benefícios, Parques Eólicos podem gerar impactos para a comunidade – Vinícius Sobreira/Brasil de Fato

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